quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

EDUCAR NÃO É SIMPLES ASSIM


Estamos acostumados a buscar soluções simples e rápidas para problemas complexos. Para resolver a fome, fast food. Para resolver os quilos a mais causados pelo fast food, dieta rápida. Para resolver o desequilíbrio metabólico causado pela dieta rápida, suplementação. Para resolver a sobrecarga metabólica causada pela suplementação, talvez, quem sabe, alguns comecem a pensar em comer alguns vegetais, o que é mais ou menos bom, já que agora eles podem receber um tanto a mais de agrotóxicos.  Não há soluções simples para problemas complexos.
Ouso dizer que o simples não existe. Essas soluções que encontramos para resolver nossos problemas, assim como algumas tantas que se apresentam para resolver os problemas da nação, não são simples, são apenas rasas. O simples, de fato, é absolutamente complexo. É assim com nossa alimentação, com as contas para pagar no final do mês, com a segurança, com a saúde e com a educação.
Simples, para resolver a situação da educação no Brasil, seria se os governantes (em todas as esferas públicas) olhassem para a educação com o respeito que ela merece. Investir numa qualificação profissional séria e responsável, feita a partir de uma reflexão coerente, respeitando as pesquisas desenvolvidas e os pensadores qualificados que temos, sem deixar-se levar pelo populismo, pelo partidarismo, pelo binarismo, pelo dogmatismo e todos os outros ismos que dilaceram a humanidade.
Simples, para pensar soluções viáveis para a educação no ambiente escolar, seria uma parceria sincera e amorosa entre famílias e escolas. Valorizar o trabalho docente, tão desrespeitado e desgastado, já é um começo. Promover reuniões que possam ir além dos recados. Propor momentos de socialização, oportunizar o diálogo sincero, pensar possibilidades conjuntas e organizar ações partilhadas.
Simples seria se olhássemos para as boas experiências das escolas públicas no Brasil, de professores que com tão pouco fazem muito, e aprendêssemos com nossas próprias práticas, porque elas existem. Há bons professores e professores que pouco contribuem, tanto no ensino público quanto no ensino privado. O que faz do professor um bom profissional, não é o diploma desta ou daquela Universidade, mas o desejo de partilha, de provocar o pensamento, de instigar, de apontar caminhos, de valorizar a descoberta.  As Universidades deveriam se ocupar, cada vez mais, em formar profissionais capazes de entrelaçar (e enlaçar com pontos muito apertados) conhecimento científico com a ética do viver.
Os governantes deveriam investir em formações profissionais que realmente qualifiquem e sensibilizem e não apenas em encontros empolgacionais, que em duas semanas perdem o efeito anestésico. Não deveriam querer investir em apostilas para “facilitar” a vida dos professores. Penso, que “facilitaria” muito a vida dos professores se estes recebessem um salário digno e em dia, se suas práticas docentes fossem valorizadas, se lhes fosse oportunizado espaço de discussão e escuta, se tivessem um ambiente de trabalho adequado para ensinar e aprender, se suas trajetórias profissionais fossem respeitadas.
No entanto, o que se vê são políticos, especialmente aqueles que nada entendem de educação, dizendo que os professores não sabem ensinar, que os alunos devem filmar seus professores e que os professores devem filmar seus alunos, como forma de policiamento e repressão de ambos. Aprender é permitir que corpo se aproprie de conceitos a partir de experiências vividas, compartilhadas, narradas, escritas, desenhadas, dialogadas, subjetivadas. Educação não se faz com cabresto e cerceamento, se faz com conhecimento, ética, respeito e alteridade.

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