domingo, 31 de janeiro de 2021

COMPRE MENOS BRINQUEDOS, BRINQUE MAIS COM SEUS PEQUENOS

É comum que os adultos, para acarinhar, ou suprir suas ausências, comprem muitos brinquedos para seus pequenos. Mas, brinquedo nenhum assegura o brincar. Até porque, as crianças não precisam de brinquedos para brincar, elas brincam com o próprio corpo, com suas vozes, com pedrinhas, pedacinhos de madeira, barro, conchas, panelas, talheres, brincam com tudo e com nada.

Tudo pode ser brinquedo, se for brincado. E, um brinquedo caro pode ser apenas um belo objeto de decoração, se for deixado na prateleira.

O mais importante na brincadeira não é o brinquedo, mas o brincar, o verbo, a ação. O brincar compartilhado é fundamental para estabelecer bons vínculos afetivos, para criar significados, encontrar sentidos, desenvolver as linguagens e múltiplas aprendizagens.

Muitos brinquedos sonoros, cheios de recursos, letras e números não asseguram nem o brincar, nem a aprendizagem, pois os símbolos que estão ali representados podem não fazer o menor sentido para a criança.

Aprendizagem não é um processo intelectivo apenas, é sensorial, motor, afetivo e simbólico. Quem aprende é o corpo. É através do corpo que as informações chegam ao cérebro e é por meio dele que as respostas cognitivas, motoras, sensoriais, são manifestadas.

Se queremos que nossos pequenos aprendam e se desenvolvam, é importante brincar, cantar, dançar, contar histórias, dar colo, passear, conversar. Comprar lindos brinquedos não substitui nenhuma destas ações. 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

LIVROS SÃO COMO PAIXÕES ADOLESCENTES

Os jovens, de um modo geral, apaixonam-se com mais facilidade e maior frequência do que os adultos. Talvez porque os hormônios estejam em ebulição, ou pela curiosidade aguçada da juventude, ou ainda, pelo desejo de novas experiências e aventuras. Lembro que na minha juventude, os adultos chamavam as paixões adolescentes de “paixonites”. Possivelmente, porque às considerassem um sentimento agudo e intenso, que logo passava, sem maiores riscos de “cronificar” e virar um amor de longo prazo.

Algumas “paixonites” da adolescência, no entanto, podem cronificar, outras podem deixar marcas em nós, mas em sua maioria, são brisa. Quando eu tinha uns doze anos de idade, sofri de uma “paixonite” que não cronificou, mas deixou marcas profundas para o resto da vida. O causador dessas cicatrizes, cinco anos mais velho que eu, gostava de boa música e bons livros. Carrego comigo, até os dias de hoje, seu gosto musical e o desejo de encontrar na leitura, fontes de inspiração.

Houve um livro em especial que, naquela época, ele disse ser o seu preferido. Eu, como estava ardendo em febre pela paixonite, quis imediatamente ler aquele livro, apenas para poder dizer a ele que eu o havia lido. Uma reação comum às paixonites é que, quando estamos febris, queremos impressionar o outro, chamar sua atenção de alguma forma. Como haviam cinco anos de diferença entre nós – e cinco anos é um tempo muito longo quando somos jovens – eu queria encontrar um modo de mostrar minha pretensa maturidade.

Tentei ler o livro. Obviamente, como maturidade não é algo que ganhamos pelo desejo, mas pelas experiências que precisam de tempo, não consegui finalizar a leitura. Tive a incrível ideia de pedir para uma amiga, que devorava um romance por noite, para ler a história e me contar o que havia nela. Minha amiga, por ter os mesmos anos de experiência que eu, também não conseguiu avançar na história. Não tive êxito em exibir minha pretensa maturidade leitora ao jovem rapaz.

Anos depois, o livro seguia na minha estante. Aos dezessete, peguei-o para ler novamente e o devorei numa sentada. A leitura fluiu e a história transbordou para fora de suas páginas. Naquela época eu já estava curada da febre, mas haviam as cicatrizes melódicas das canções do Nelson Coelho de Castro. E agora, ficaria marcada também por aquela história. A marca, porém, foi maior. Ficou daquela experiência a cicatriz da compreensão leitora. Entendi, naquele momento, que não há livro que não possamos ler, há livros que não agradam nosso paladar e outros que ainda não estão no ponto para serem (co)l(h)idos. Livros são como paixões adolescentes, alguns viram grandes amores, outros deixam marcas em nós e alguns serão nuvens passageiras, que o vento vai levar.

 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

SEM EXPECTATIVAS PARA 2021

 

Chegamos em 2021. Nunca iniciei um ano com tão pouca expectativa. Meu único plano para este ano é viver um dia de cada vez. Pretendo também procrastinar menos, resolver um problema de cada vez e cada um a seu tempo e viver o melhor possível cada dia. A grande lição que tirei de 2020 foi: não planeje tanto, faça acontecer.

Iniciei o ano anterior com muitos planos, investi dinheiro neles. E, consequentemente, perdi dinheiro com eles. Pois, assim como você, no início do ano eu não tinha como imaginar o que viria pela frente. O Coronavírus chegou sem aviso prévio e fez um estrago danado mundo a fora. De uma hora para outra o meu, o seu, o mundo inteiro virou de cabeça pra baixo.

Mas, apesar da bagunça que o bichinho continua causando, ele mostrou que eu podia fazer tudo que eu queria, só que de outros modos. Me mostrou também que era possível fortalecer os laços de amizade, cuidar da saúde e da saudade de quem queremos bem, colocar em prática os cuidados de prevenção da COVID-19 com leveza e bom humor, cuidando de mim e de cada um a minha volta.

Quando tudo isso começou, lá em março de 2020, eu já pensava que a humanidade não sairia melhor dessa experiência, mas que ela acentuaria os traços de cada um e de cada grupo. Quase um ano depois, é exatamente isso que vejo. Quem era solidário, empático e consciente, segue mantendo suas características e fortalecendo suas redes de apoio. Quem era egoísta, negacionista e se alimentava de teorias conspiratórias e narrativas tóxicas, também.

A diferença entre esses dois grupos, ao meu ver, é que o primeiro teceu redes de afeto e solidariedade, através de ações concretas, que potencializavam e qualificavam o fazer e o viver do outro. O segundo, continuou apenas criando teorias, mirabolâncias e verborragias tóxicas. Num mundo onde grande parte dos seres humanos olham e fazem apenas pelo seu umbigo, é mais fácil, e muito mais cômodo, alimentar-se das narrativas que cabem dentro da própria roupa. Qualquer movimento fora do roteiro, faz a roupa ficar apertada e desconfortável.

Para 2021 não quero criar expectativas, não quero ficar na posição daquela que anseia por algo e vê o anseio tornar-se ansiedade. Para 2021 desejo conjugações verbais, afinal a vida se faz ao viver. Neste ano quero muitos verbos para conjugar, o primeiro deles: “esperançar”, no melhor sentido freiriano.

É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera”, dizia Paulo Freire. “Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo...”. Que em 2021 possamos conjugar muitos verbos: viver, vacinar, aprender, ser, abraçar, beijar... Que verbos você deseja conjugar em 2021?!