quinta-feira, 26 de março de 2020

SE PUDER, FICA EM CASA!!

Sabemos que os mais jovens podem portar o vírus e não apresentar sintomas. Mas, por serem portadores, podem levar o vírus para suas casas e transmitir para os mais velhos. Por isso, é preciso pensar que, neste contexto, ter empatia não significa cuidar-se para não pegar o vírus, mas ter cuidado para não transmiti-lo a outras pessoas. A economia precisa girar, mas a vida humana também. Sem vida humana, nenhuma economia se sustenta. Neste momento, se você pode, fica em casa!! 
Ser ou não ser, eis a questão!!, escreveu William Shakespeare, em Hamlet. Escrever ou não escrever uma crônica datada, foi o meu dilema, antes iniciar a escrita dessa conversa. Como escritora, procuro evitar textos datados. Mas, creio que nas próximas semanas, será inevitável.
Precisamos falar sobre o Coronavírus, precisamos aprender a viver e conviver com ele e apesar dele. Se por um lado, meus textos ficarão datados, por outro serão memória de um tempo que a gente precisou aprender a viver de um modo diferente a se comportar, se relacionar, se organizar, trabalhar, se amar, de novos jeitos.
Muitas pessoas não conseguem ter uma opinião clara sobre como se comportar nessa situação. E é compreensível, pois este é um momento novo, uma experiência nova, é tudo novo. A gente fica perplexo, sem entender direito. Mas calma, inspira, respira, não pira. Ouve a voz da experiência e da ciência.
Nossos ancestrais compreendiam a vida e enxergavam o mundo através das narrativas mitológicas que criavam para explicar o mundo e seus fenômenos. Isso foi antes do advento da ciência. Mas, este modo de pensar, justamente por ser simples e de fácil compreensão é, muitas vezes, mais bem acolhido do que os fatos científicos. Para quem acredita em teorias conspiratórias o fato científico é sempre insuficiente.
Mas, acredite você ou não, o Coronavírus está aí e a gente precisa aprender a conviver pacificamente com essa realidade. É preciso desacelerar, acalmar, aquietar o corpo, a mente e o espírito. Ficar em casa não é covardia, é prudência e respeito. Respeito consigo, com sua família, com seus amigos, com as pessoas, sobretudo com aquelas que não tem escolha, que precisam trabalhar. Por respeito a essas pessoas é que precisamos ficar recolhidos, para minimizar a circulação e o contágio.
Há quem pense e fale, que não tem problema se, num país do tamanho do Brasil, morrerem umas quinze mil pessoas, o que não pode é a economia parar. Mas, pense comigo e responda à pergunta: Quem da sua família você abria mão, pra ver não parar a economia? Quem dos seus familiares você escolhe perder, para continuar levando a vida sem mudar sua rotina?
Dizem também que se você tiver boa saúde e uma boa condição física, nada vai te acontecer. Será mesmo?! Então, porque razão sete atletas de alto rendimento do basquete norte americano já foram infectados pelo coronavírus? São jovens, saudáveis e atletas, mas não estavam imunes. Por prudência, as Olimpíadas e Paralimpíadas de Tóquio foram adiadas, a NBA suspendeu a temporada; a Eurocopa, a Copa América, assim como o Torneio de Roland Garros, também foram adiados.
Sabemos que os mais jovens podem portar o vírus e não apresentar sintomas. Mas, por serem portadores, podem levar o vírus para suas casas e transmitir para os mais velhos. Por isso, é preciso pensar que, neste contexto, ter empatia não significa cuidar-se para não pegar o vírus, mas ter cuidado para não transmiti-lo a outras pessoas. A economia precisa girar, mas a vida humana também. Sem vida humana, nenhuma economia se sustenta. Neste momento, se você pode, fica em casa!! 

quinta-feira, 19 de março de 2020

COMO UMA ONDA

Lembro como se fosse hoje o dia em que meu pai chegou em casa com o disco “Último Romântico”, do Lulu Santos.  Eu tinha dezesseis anos e era apaixonada pelo Lulu. Meu pai deixou o disco na porta da frente de casa, tocou a campainha e correu pra ver a minha reação abrindo a porta.
Por que em meio a uma pandemia de COVID-19, doença causada pelo mais recente coronavírus descoberto, eu lembrei do meu LP do Lulu Santos?! Porque a primeira música do lado A do disco é “Como uma onda”. E, nesses dias de quarentena e reflexão, faz muito sentido cantar “nada do que foi será/ de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará”.
Acredito verdadeiramente que na vida tudo é aprendizado, embora, às vezes, a gente demore pra aprender a lição. No momento que escrevo este texto, é tempo de aquietar e ficar na casinha. É preciso também não se deixar enlouquecer pelos celulares que não param de apitar com a chegada de tantas mensagens que, se não filtrarmos, ou nos colocam em estado de pânico, ou nos fazem pensar que está tudo sob controle.
Calma, não estamos à beira de um apocalipse zumbi, mas também não está tudo bem. Não é porque não enxergamos esse monstrinho viral, que ele não existe. Não sejamos arrogantes. Que possamos aprender com a experiência dos outros países, onde o coronavírus chegou antes.
O Lulu e o Nelsinho Motta, em “Como uma onda”, também escreveram assim: “tudo que se vê não é igual ao que a gente viu a um segundo. Tudo muda o tempo todo no mundo. Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora. Há tanta vida lá fora e aqui dentro sempre como uma onda no mar”. Nossa organização cotidiana, nossos planejamentos mudaram e seguirão mudando. É que tudo muda o tempo todo no mundo. E não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora.
Toda experiência é potencialmente ensinante, mas a gente tem que querer aprender com ela. Neste momento, podemos aprender a colocar em prática aquilo que a gente sempre diz, mas nem sempre faz, como lavar as mãos com frequência. Podemos aprender a ser mais coerentes com as notícias que ouvimos, antes de passá-las adiante. Podemos aprender que pânico não ajuda a combater o vírus e que se cuidar é cuidar do outro. Aprender que as redes podem ser verdadeiramente sociais e que a ciência feita por cientistas é importante. Aprender que a arte pode ajudar a aquietar o coração e divertir as crianças em tempos de recolhimento. Aprender a criar outros modos de viver e conviver. Aprender a respeitar os outros, inclusive um vírus e seus companheiros.
Podemos aprender muito com toda essa mudança em nossas rotinas, mas ela também pode provocar um tsunami dentro da gente, se não soubermos levar com tranquilidade e sabedoria o que virá pela frente.  Há muita vida lá fora, muito abraço pra ser dado depois que aprendermos a conviver mais pacificamente com esse bichinho, assim como aprendemos a conviver e nos proteger dos que vieram antes dele. É preciso calma para saber levar a vida nos fluxos que ela impõe, num indo e vindo infinito, como uma onda no mar.

quinta-feira, 12 de março de 2020

AQUELE ABRAÇO



Um país não é sua geografia, não apenas sua geografia. Um país é sua gente. É constituído por seu território e também pelo modo como as pessoas que lá habitam usufruem do seu espaço e cuidam uns dos outros.
Faz muito tempo que as pessoas que aqui habitam deixaram de cuidar da terra, da água, dos povos originários, uns dos outros. Quando cuidam, quase sempre o fazem numa perspectiva individual, pensando no seu entorno, a partir de suas necessidades, crenças e princípios.
Ampliar o olhar para compreender o outro, os outros, o todo, é um exercício difícil para muitas pessoas e impossível para outros tantos, porque para isso é preciso desejo, diálogo e ação. Tentar compreender a vida para além do nosso umbigo dá trabalho. Acontece que, quando olhamos a vida, ou programas de TV, a partir do nosso mundinho, vamos interpretando os fatos de um modo muito restrito.
No dia primeiro de março o programa Fantástico, da Rede Globo, exibiu um quadro que mostrava os problemas enfrentados pelas mulheres trans, condenadas e cumprindo pena em penitenciárias do Brasil. Foi feito um recorte, como em todo programa de TV faz.  Havia ali a necessidade de um cuidado de pesquisa, antes que o quadro fosse colocado no ar. Cuidado este que não houve. O quadro foi emocionante, a ponto de deixar muitos brasileiros sensibilizados pelo abraço dado pelo dr. Dráuzio Varella em uma das entrevistas. Minutos depois o povo emocionado queria Dráuzio para presidente da nação.
Dias depois do programa ter ido ao ar, veio a público que Suzy, a trans abraçada por Dráuzio, cumpria pena por um crime hediondo. Pronto, todos que queriam Dráuzio presidente agora queriam o linchamento público dele.
Dráuzio tem mais de cinquenta anos de atuação profissional e há mais de trinta anos frequenta presídios, onde trata da saúde de detentos. A matéria foi feita em vários presídios, portanto havia um recorte. Que tipo de lógica as pessoas usam para analisar o que veem? Nossa doença nacional produziu uma grande lesão nas áreas do cérebro responsáveis pelo senso crítico? Agora é tudo emoção, é tudo olho por olho dente por dente?
Suzy foi condenada e está cumprindo pena. Dráuzio estava fazendo seu trabalho na função de médico. A equipe de jornalismo pisou feio na bola, por não checar os fatos e não pensar no conteúdo inteiro do que estariam colocando no ar. Dráuzio se desculpou. Mas as pessoas continuam destilando seu ódio, tão irracional quanto seu amor de duas semanas atrás.
Como diz a canção de Caetano “Um amor assim violento/ Quando torna-se mágoa/ É o avesso de um sentimento/ Oceano sem água”. Penso que andamos a viver de amores e ódios violentos e secando nosso oceano da razão.

quinta-feira, 5 de março de 2020

INSPIRA, RESPIRA, NÃO PIRA


Faz algumas semanas que não passa um dia sem que meu celular fique lotado de imagens, vídeos e textos sobre o novo coronavírus. Muitas das (des)informações que recebo, porém, parecem um anúncio do próximo filme de Resident Evil. 
Gente, a mutação foi do Coronavírus e não do T-Vírus (o vírus da história ficcional). Não vamos virar zumbis como resultado de uma experiência com um vírus geneticamente modificado, mas muita gente pode morrer, ou sofrer com uma grave infecção respiratória, se as pessoas continuarem desinformando. Inspira, respira, não pira.
A verdade é que o Coronavírus não é um vírus, mas sim um grupo de vírus. Eles têm esse nome porque os cientistas acharam que, olhando pelo microscópio, parecem uma coroa. Os cientistas tem essa mania de dar uns nomes estranhos às suas descobertas.
Os vírus, todos eles, são bichinhos que adoram mudar de visual. O que quero dizer com isso é que é muito comum que os vírus sofram mutações, tornando-se cada vez mais agressivos. É justamente porque eles se modificam com frequência que precisamos fazer a vacina da gripe todos os anos.
Tomar a vacina da gripe não garante que não fiquemos gripados ou resfriados, mas evita (ou diminui as chances de) que um simples resfriado torne-se uma infecção respiratória grave e potencialmente fatal. O vírus da gripe, no entanto, é o influenza e não um coronavírus. Portanto, a vacina regular tomada antes do inverno não protege contra o novo coronavírus (2019-nCoV). Mas protege contra outros vírus que também podem ser fatais. Não podemos ser ingênuos e achar que o único vilão do inverno será o novo coronavírus, muitos outros bichinhos virulentos podem chegar sem pedir permissão e nos fazer muito mal.
Então, o melhor que podemos fazer é, não entrar em parafuso, sermos racionais e não acreditarmos em todas as maluquices assustadoras que nos chegam através das redes sociais e WhatsApp, tomarmos as medidas preventivas que são realmente eficientes e que não são novas para ninguém. Afinal, essa camuflagem do coronavírus pode ser nova, mas as medidas preventivas são as mesmas boas e velhas medidas que usamos a vida toda para nos prevenir de qualquer outro vírus.
Sendo assim, vamos beber muito líquido, manter bons hábitos alimentares e de sono e tornar rotina a higienização das mãos. Vamos aprender a, quando tossir, cobrir a boca com o antebraço e não mais com a palma da mão. Quando cobrimos a boca com a mão, deixamos ali muitos bichinhos para serem compartilhados. Usar álcool gel nas mãos é bom, mas sem paranoia e sem pensar só isso previne tudo. Então, quando pensar em Coronavirus, inspira, respira, não pira. E também lava as mãos, toma bastante água e deixa a casa arejada.