quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

TEMPO DE PARTILHAR O TEMPO (CRÔNICA DA SEMANA)


Nestas férias, num daqueles dias que começou preguiçoso, com chuvinha e nada para fazer, propus que jogássemos um jogo de tabuleiro, daqueles que precisamos de tempo para jogar. Penso que jogos de tabuleiro são sempre uma boa oportunidade de nos conectarmos com o aqui e agora, uns aos outros, sem precisar de Wi-Fi.
Para a viagem eu havia levado na bagagem um baralho e um jogo de tabuleiro que se chama “Palavras Cruzadas”, onde cada jogador inicia escolhendo sete letras aleatórias, pois as peças são dispostas com as letras voltadas para baixo na mesa. O primeiro jogador inicia compondo uma palavra na vertical ou na horizontal, partindo do meio do tabuleiro. A partir daí, com as letras que tem consigo, os jogadores vão criando uma palavra a cada jogada, partindo ou entremeando com alguma das palavras já colocadas na mesa, como acontece num jogo de palavras cruzadas no papel.
Neste jogo, cada letra tem um valor e no tabuleiro há prêmios como duplo valor da letra, triplo valor da palavra, a partir dos quais vai sendo pontuado o valor de cada palavra, para ao final calcular a pontuação de cada jogador.
Quando estamos a jogar Palavras Cruzadas, vibramos quando conseguimos vogais, já que é impossível escrever uma palavra em língua portuguesa apenas com consoantes. Conseguir letras “a” ou um coringa é a realização. Durante uma das partidas que jogamos eu tinha, entre minhas peças, três letras “a” e um coringa. Na rodada seguinte, recebi mais um coringa. As letras nos chegam por sorteio e os outros jogadores não sabem quais letras temos. Mesmo assim, eu achei injusto ter três letras “a” e dois coringas entre as minhas sete letras. Então, devolvi uma peça de cada à mesa e troquei por outras letras.
Como neste jogo só trocamos as letras quando é impossível de dar andamento à construção de uma palavra - e para isso passamos a jogada -, meu marido perguntou o que eu estava fazendo. Quando respondi, ele falou: - Isso não é correto, a regra não é essa.
É verdade, quebrei as regras, não apenas porque achei injusto ficar com tantas possibilidades que me facilitariam a vitória, como também porque o mais importante naquele momento não era vencer, mas continuar o jogo de modo que todos tivessem o mesmo prazer em partilhar o momento.
Nem sempre o correto é justo. Raramente equidade faz parte das regras de um jogo, ainda que estas sejam legítimas. Naquele momento precisei escolher entre seguir as regras corretamente ou quebrá-las a fim de proporcionar um pouco mais de equidade no jogo. Precisei escolher entre o prazer da vitória ou o prazer de desfrutar mais tempo com as pessoas que amo. A vitória não me faria diferença, mas o tempo de partilhar o tempo é o que dá sentido ao viver.  

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