quinta-feira, 29 de agosto de 2019

PORQUE A PRESSA?

Segunda-feira, como já se anuncia, é o segundo dia da semana. O primeiro é domingo, dia de descanso em algumas religiões e no calendário de muitos seres humanos. “Onde queres descanso, sou desejo”, escreveu ela no sábado à noite, anunciando o domingo. Fernanda Young era uma mulher cheia de “quereres”, desejos, opiniões e múltiplos talentos. Fernanda, que era jovem até no nome, trazia consigo a rebeldia da juventude e a maturidade da adultice.
As gentes, que admirávamos o trabalho, a força rebelde e a lucidez sensata de Fernanda, ficamos sem chão e sem entender como pode uma mulher jovem, cheia de vitalidade, que cuidava da saúde física e mental, morrer aos 49 anos de idade, em função de uma crise de asma. É verdade que há muitas pessoas jovens que morrem precocemente por razões estúpidas, mas quando se trata de alguém por quem nutrimos alguma empatia, sentimos mais forte a perda.  
Fernanda, que como poucos fez a gente rir do ridículo que nos habita, dando vida a’Os Normais, Rui e Vani, ao nonsense Jorge Horácio, de Minha nada mole vida, à Jessica, Ana Maria e Marion, que surtavam durante as aulas de Yoga, entre tantos outros personagens hilários, loucos, críticos, ácidos, normais, que despertavam em nós curiosidade e empatia. Fernanda Young partiu cedo e sem aviso prévio. Ela, que havia escrito em seu Instagran, apenas 48 horas antes de sua partida: “sou uma mulher de 50 anos que sonhou alto e realizou muito. E estou longe de encerrar minha jornada nessa orbe”.
A verdade é que não sabemos o dia que vamos partir, a gente não planeja ele, muitos evitam até pensar, como se não pensando, a morte não fosse acontecer. Por outro lado, planejamos a vida. Muitos passam tanto tempo planejando e correndo para cumprir tarefas, que esquecem até de viver o cotidiano. Não se trata de viver cada dia como se fosse o último, mas viver cada dia como se fosse único.
Dia desses uma pessoa me falou que agosto já tinha terminado e que a Oktoberfest (tradicional festa da cidade onde moro) já estava aí. Eu lhe perguntei o porquê dessa afobação em acelerar ainda mais o tempo que já corre apressado? – Mas é verdade, moça!!, me respondeu ele. Eu então lhe disse que não, que ainda faltavam alguns dias para terminar agosto e havia um setembro inteiro para trazer a primavera e a festa das flores, antes de chegar a Oktoberfest. 
Fernanda partiu precocemente, mas viveu intensamente. Nós, muitas vezes, diminuímos a intensidade para viver apressadamente, como se a vida fosse desimportante, como se pudéssemos em algum momento recuperar o tempo não vivido. Não podemos. Os filhos crescem, as pessoas mudam e se mudam, partem para outras aventuras e só então percebemos o que perdemos. A partida precoce de Fernanda Young deixou piscando em mim um luminoso onde está escrito: Não perca tempo. Viva!

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

PARADOXOS


Assim está escrito no Aurelinho (minidicionário da língua portuguesa brasileira): Pa.ra.do.xo sm. 1. Conceito que é ou parece contrário ao senso comum. 2. Absurdo. 3. Filos. Afirmação que vai de encontro a sistemas ou pressupostos que se impuseram como incontestáveis ao pensamento.
Em 1994 Gilberto Gil escreveu sobre o paradoxo de uma novidade que “veio dar à praia, na qualidade rara de sereia [e que tinha] / Metade o busto de uma deusa Maia/ Metade um grande rabo de baleia”. Dizia ele que “A novidade era o máximo/ Do paradoxo estendido na areia/ Alguns a desejar seus beijos de deusa/ Outros a desejar seu rabo pra ceia” . Gil é genial com suas palavras que brincam ao olhar para as maluquices do mundo contemporâneo, nos fazendo pensar sobre outros tantos paradoxos.
A quarta semana do mês de agosto desperta em mim sentimentos e pensamentos que podem parecer paradoxais, mas que são absolutamente complementares. Entre os dias 21 a 28 de agosto, acontece a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, com o objetivo de abrir debates e colocar a sociedade em reflexão sobre questões que envolvem inclusão e igualdade de direitos e oportunidades.
Todos os anos, durante a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência, é celebrado também o Dia do Folclore. E qual a relação entre o Dia do Folclore e a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência? Eu poderia responder que nenhuma. Mas, você já reparou que muitos dos personagens de nosso folclore brasileiro trazem em seus corpos marcas distintas, que aqui no mundo real chamamos de deficiências? Ao Saci falta uma perna, à Mula sem Cabeça falta a cabeça, o Curupira tem os pés voltados para trás e a Iara um rabo de peixe.
A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência e o Dia do Folclore não tem relação direta. Mas poderiam ter, na medida em que ambos nos chamam à reflexão para lembrar daquilo que nos torna verdadeiramente humanos, a memória, o respeito, a empatia e o cuidado.
Ao falar sobre o paradoxo da sereia, Gil ainda escreveu: Ó mundo tão desigual, tudo é tão desigual/ De um lado este carnaval, de outro a fome total E se fôssemos capazes de sonhar e criar um mundo menos desigual, com mais respeito e empatia entre todos os seres? Talvez, se acreditássemos nas pessoas como as crianças pequenas acreditam nos seres fantásticos, sem questionar suas potencialidades, apesar de suas diferenças físicas, fôssemos capazes de aprender mais uns com os outros e fazer mais uns pelos outros.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

O PAPEL DO HISTORIADOR

Hoje é dia do Historiador!! Muitos vivas a todos os amigos que lutam para que nossa história e nossa memória se mantenham vivas!! Maior orgulho de vocês!!

HISTORIADOR TEM A FUNÇÃO DE TRAZER À LUZ AQUILO QUE A SOCIEDADE QUER ESQUECER

HOJE DIA DAQUELES QUE SÃO MUITOS E UM SÓ

Hoje é Dia do Ator. Minha gratidão é gigantona a esses que me inspiram e sinalizam que outros modos de viver são possíveis e viáveis, que podemos ser vários, que ter habilidades diversas é soma e não divisão do que nos constitui. Gratitude a esses que nasceram com alma de artista, deixaram florescer sua arte e vivem a cuidar do jardim!!

domingo, 18 de agosto de 2019

EL PRINCIPITO

Essa foi uma semana repleta de sentimentos, memórias, afetos. Dia 13 fez um ano que nosso Tutuks (meu filho mais novo) foi alegrar os dias do Pequeno Príncipe, lá no Asteróide B612. Seria um dia para sentir um aperto imenso de saudade e assim foi. Mas foi também um dia repleto de histórias e crianças no Dia do Escritor no Colégio Dom Alberto, de oração junto às minhas queridas amigas Monjas do Mosteiro da Santíssima Trindade, que sempre me acolheram de braços abertos e sorriso largo, e de receber um presente singular. A vida é repleta de coincidências, encontros, surpresas, bons afetos. Todos os dias agradeço pelos acertos e tropeços, porque a vida é sábia.

Na terça-feira, dia 13, recebi pelo correio um pequeno pacote enviado por uma amiga querida e ex aluna, que havia voltado da Espanha, onde passou um tempo estudando. Não quis abrir o pacote naquele dia, abri apenas o envelope, li seu recadinho, me emocionei, mas deixei para abrir o pacote num momento em que pudesse apreciar esse carinho. Acho que era meu coração dizendo que precisava se preparar. Só hoje abri meu presente e ... Nem sei, não dá pra descrever o tamanho desse sentimento. Andressa, quando estava em Sevilla, encontrou um exemplar d’El Principito e lembrou de mim. Sim, O Pequeno Príncipe, a história que me permitiu, junto com Arthur, a construir uma narrativa que fizesse sentido, que aliviasse a dor que estava por vir, que permitisse a despedida. Andressa, essa querida que não encontro faz tanto tempo, lembrou de mim lá do outro lado do oceano ao ver o livro e o trouxe de presente. Sim, presente que se faz presença amorosa. Esse é daqueles momentos que eu preciso escrever pra poder transbordar em gratidão, alegria, emoção e bem querer.