quinta-feira, 18 de junho de 2020

ENCONTROS E DESENCONTROS



Conheço muitas pessoas que não gostam de ir ao super mercado fazer compras. Eu, no entanto, sou daquelas que sempre gostou. Pra mim, ir ao mercado era momento garantido de encontro com algum amigo. Quando vou à minha cidade natal, adoro ir ao mercado, à farmácia, à loja de ferragens, pois sei que vou encontrar algum conhecido ou amigo de infância.
Difícil pra mim é fazer uma comprinha rápida, já que é muito improvável conseguir ir ao mercado sem ficar de conversa com alguém. Sou daquelas que, se deixar, puxa conversa com a menina da fiambrería, faz aula com o senhor que organiza as frutas (ele sempre tem dicas ótimas), troca receita com a moça do caixa.
Isso tudo, porém, foi antes das idas ao mercado necessitarem de tanto cuidado, foi antes de precisarmos nos afastar para mostrar que nos importamos com aqueles que amamos. Agora, a gente vai às compras com máscara no rosto, e do sorriso vemos só os olhos apertadinhos, a palavra é abafada, o abraço virou aceno.
Ontem eu fui ao mercado, coisa que faço com muito menos frequência hoje em dia. Agora, vou às compras torcendo para não encontrar nenhum amigo, porque é muito difícil encontra-los e não poder abraçar. Mas, ontem eu fui ao mercado e, no meio das compras, encontrei um grande e querido amigo, daqueles que o encontro foi sempre uma grande celebração. Ontem, no entanto, eu congelei. Eu não sabia o que dizer e o meu peito não sabia o que sentir. Eu não podia abraçar, não podia enxergar o sorrisão, são sabia como celebrar a alegria do encontro sem as ferramentas que sempre usamos.
Hoje, um outro amigo querido escreveu uma mensagem dizendo que para ele, a grande dificuldade desse tempo de quarentena é não poder abraçar as pessoas.  Eu novamente congelei. Como era mensagem, fiquei sem um emoji que expressasse o que eu sentia e sem palavra que substituísse o emoji que não existia.
A ciência já começou a desenvolver vacinas para que possamos aprender a conviver com esse vírus, de modo que nosso corpo possa sofrer menos quando em contato com ele. Mas a ciência não terá ferramentas para nos ajudar a lidar com as emoções desse tempo.
Quando tudo isso passar, precisaremos reinventar os afetos, reaprender a abraçar, pois o abraço (ao menos por um tempo) já não será espontâneo como antes. Será preciso avaliar os prós e contras de cada abraço.
Que a gente não se perca, que saibamos nos cuidar agora do modo correto, que sejamos fortes para manter os laços e sábios para reaprendermos a estar próximos, sem perder a vista do horizonte que sustenta alguma utopia. 

quinta-feira, 4 de junho de 2020

O QUE APRENDER EM TEMPOS DIFÍCEIS


Ei, psiu!! Você!! Sim, você aí que está lendo esse texto!! Como vai você nessa quarentena? Já começou a se cuidar ou segue tomando todos os cuidados necessários para cuidar de si e dos seus? São tempos estranhos esses. Muitos ainda não acreditam que esse vírus exista e que possa ser potencialmente fatal, mesmo ele já tendo, sozinho, levado mais de 30 mil vidas, em poucas semanas, em nosso país.
Há quem diga que não conhece ninguém que tenha morrido em função do coronavirus, que isso é só uma gripezinha, que se matar velhos tudo bem, que morrer faz parte da vida.  É verdade, morrer faz parte do ciclo da vida. Ou melhor, morrer encerra o ciclo da vida. Mas, não é por essa razão que eu irei achar normal e razoável tantas vidas perdidas sem sentido.
O número de mortos, apenas por COVID-19, nos últimos três meses no Brasil é quase quatro vezes maior do que a população inteira do município onde moram meus pais. Como eu posso pensar que isso é irrelevante? Como poderia não me sensibilizar? Que tipo de seres humanos estamos nos tornando ao minimizarmos as mortes de mais de trinta mil brasileiros?
No início desse processo todo, muitos diziam que sairíamos pessoas melhores desse período. Eu já suspeitava que não. Queria muito estar errada na minha suspeita. No entanto, o que vejo nas redes sociais e telejornais são manifestações do que de pior poderia ter aflorado nas pessoas. A pressão faz isso, faz explodir os piores sentimentos.
É preciso ser muito forte para aceitar, com alguma serenidade, a realidade de uma pandemia e viver todas as suas consequências. É preciso ter muita empatia e amorosidade para pensar fora da caixa e olhar para além do próprio umbigo e das perdas pessoais. É preciso ser gente pra não desejar a destruição do outro, pra não torcer contra a vida, pra não distorcer a ciência, nem desqualificar os profissionais que estão dedicando seu dia a dia a minimizar as perdas e potencializar a vida.
Que possamos aprender, nesse momento e a partir dele, a sermos mais fortes, serenos, empáticos, amorosos, humanos, solidários. São tantos que precisam da nossa ajuda, de tantos modos diferentes. Não dá pra ajudar todo mundo, mas dá pra usar máscara e lavar as mãos, dá pra se esforçar para entender as dificuldades e limitações do outro, dá pra dialogar mais e acusar menos, dá pra valorizar os profissionais da saúde, da educação, da higiene e da alimentação, que estão se desdobrando para minimizar os impactos deste momento, dá para apoiar os profissionais da cultura e os artistas, que nunca trabalharam tanto sem cachê algum. Dá para valorizar as pessoas e tentar compreender a situação de cada um. Dá para valorizar a vida no lugar de desdenhar a morte.