quinta-feira, 29 de abril de 2021

TSUNAMI

A ideia de trabalhar em casa não nasceu com a pandemia que se iniciou em 2020. Na Idade Média, profissionais como sapateiros e carpinteiros, mantinham suas oficinas nos fundos, ou no primeiro piso de suas casas. A Revolução Industrial, porém, levou um grande número de trabalhadores para o chão das fábricas. Muitos outros, contudo, continuaram a ocupar a casa como espaço de trabalho.

O Home Office, como o conhecemos hoje,  pode ser descrito como um tipo de trabalho que é executado para outra pessoa, ou empresa, a partir do espaço de casa. Não costuma ser considerado Home Office o trabalho da costureira, da artesã, do marceneiro, entre outros profissionais que têm suas oficinas e ateliês anexos ao espaço de suas residências. De um modo geral, considera-se Home Office quando, ao se trabalhar para um terceiro, existe a possibilidade de realizar as atividades laborais no próprio espaço domiciliar, ou de qualquer outro lugar, com o uso de ferramentas conectadas à internet, como um telefone ou computador.

Com a chegada da Pandemia da COVID-19 e a necessidade de afastamento físico, a fim de minimizar os contágios e a proliferação do vírus, muitos profissionais passaram a trabalhar a partir das suas casas. Uma adaptação que se deu de modo abrupto, sem que a maioria das pessoas tivesse tempo de realizar alguma formação ou treinamento. Apenas aconteceu, como a chegada do vírus em nossas vidas.

Uma das profissões que precisou se reinventar do dia pra noite, foi a de professor. Só quem convive com um professor para saber em que medida a carga de trabalho multiplicou-se. Estar com os alunos, em sala de aula, é a parte mais divertida e prazerosa do fazer docente. Mas, o que talvez muitos não imaginam é que, para entrar em sala os professores precisam preparar suas aulas, organizar materiais, conteúdos, atividades.

Neste momento, em que a parte mais prazerosa da profissão lhes foi ceifada, vejo muitas pessoas chamando os professores de preguiçosos, dizendo que não querem trabalhar. Como se apenas voltar para a escola fosse fazer os professores trabalhar. Saiba que trabalho docente aumentou vertiginosamente neste tempo de pandemia. Home Office de professor é um tsunami!! Porque razão empresários, políticos, advogados e tantos outros profissionais que fazem suas atividades a partir de suas residências não são chamados de vagabundos, apenas os professores são?!

É fato que este tempo longe do convívio social afeta as aprendências de nossas crianças e jovens. Afeta o que aprendem e como aprendem. Mas, não há tempo vivido sem aprendizado. Que cada um possa acolher as dificuldades desse momento com empatia, gentileza e respeito. Não é possível vislumbrar um horizonte quando olhamos apenas para o próprio umbigo. 


* Texto publicado na Coluna "Simples Assim", do Jornal de Candelária (RS)
 

quinta-feira, 22 de abril de 2021

LIVRO: UM DIREITO DE TODOS

Abril é um mês repleto de datas festivas para os que amam os livros e a leitura. Começamos o mês celebrando o aniversário de Hans Christian Andersen e com ele, o Dia Mundial da Literatura Infanto Juvenil. Dia 18 de abril é aniversário de Monteiro Lobato, quando festejamos o Dia Nacional do Livro Infantil. Reza a lenda que no dia 23 de abril de 1616, morreram William Shakespeare e Miguel de Cervantes. Por esta razão, celebramos nesta data o Dia Mundial do Livro e dos direitos do autor.

Neste ano, mais uma vez, a proposta de reforma tributária do Governo Federal propõe uma alíquota de 12% de impostos sobre os livros. Na justificativa, o governo diz que o livro é um produto de elite, e que essas pessoas podem pagar mais caro. No entanto, como mostra a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a classe C, além de leitora, é também consumidora de livros. Para se ter uma ideia, 27 milhões de brasileiros enquadrados nesse estrato social se declaram leitores.

Não faz sentido aumentar os impostos sobre os livros, enquanto se propõe isenção de impostos para importação de armas. Tornar os livros inacessíveis e armas mais acessíveis me parece um projeto de futuro bastante obscuro para a população brasileira.

Na intenção de mobilizar a população e mostrar que nós, brasileiros de diferentes regiões e classes sociais, lemos e precisamos de mais investimentos do poder público para a área, foi que nasceu a ideia do “Viradão da Leitura”.  Trata-se de uma mobilização nacional, um posicionamento da sociedade civil contra a proposta de reforma tributária que prevê uma alíquota de 12% sobre os livros. A ideia do “Viradão da Leitura” surgiu em uma conversa entre a escritora e idealizadora do Projeto Kombina, Christina Dias, e o escritor e idealizador do Instituto de Leitura Quindim, Volnei Canonica.

No dia 23 de abril fique atento às redes sociais, pois muitos leitores, escritores, contadores de histórias, mediadores de leitura, associações, institutos, estarão envolvidos com a ação “Viradão da Leitura”, realizando 24 horas de diálogos, debates e leituras compartilhadas nas redes. 

Bom mesmo será o dia em que os livros estiverem ao alcance de todos.  Mas, enquanto o desejo segue como utopia, é sempre bom ter dias festivos, e também de resistência, para que não esqueçamos da importância do livro e da leitura para um futuro menos distópico.

* Texto publicado na Coluna "Simples Assim", do Jornal de Candelária (RS)

quinta-feira, 8 de abril de 2021

SOMOS AS MEMÓRIAS QUE TEMOS

Diz o poeta, que memória é onde a gente guarda quem a gente ama. O cientista, por sua vez, diz que somos as memórias que temos. Quem amamos, por certo, reside em nossas memórias. Quem desprezamos também. Sabemos quem somos e onde estamos, porque guardamos muitos registros. Somos filhos, netos, bisnetos de pessoas concretas. As falas, posicionamentos, escolhas e as histórias de nossos familiares, amigos, colegas de escola, ou de trabalho, se entrelaçam com nossas memórias, fazem parte delas, apontam os rumos para onde queremos ir e sinaliza os caminhos que devemos, ou queremos, evitar.

Nossas memórias assinalam quem somos no mundo. Quando nos apresentamos para uma pessoa, ou para um grupo de pessoas, dizemos nosso nome, de onde somos, onde moramos, nossas experiências profissionais, acadêmicas ou pessoais. Se somos capazes de narrar todas essas informações é porque às temos registradas em nossas lembranças.

Uma pessoa acometida pela Doença de Alzheimer vai, aos poucos, perdendo suas memórias, podendo chegar ao ponto de não ser mais capaz de localizar-se no mundo, de reconhecer seus amigos e familiares, ou até mesmo, de reconhecer-se. Este fato afirma a fala do cientista. Uma criança pequena, por sua vez, também não é capaz de narrar sobre quem é. A construção dessa narrativa acontecerá a partir das muitas vezes que os adultos que cuidam dela precisarão repetir seu nome, seus nomes, nominando e dando significado a tudo e a todos que a cercam. Aqui o poeta e a poesia do viver se fazem presentes.

Para que a memória exista é preciso que os fatos, as coisas, as pessoas, sejam nominados e rememorados muitas vezes. É preciso que ganhem sentido, que sejam sentidos. Não guardamos na memória todas as experiências vividas, nem todas as pessoas conhecidas, mas guardamos tudo aquilo e todos aqueles que fazem e dão sentido à nossa existência.

Esquecer quem somos no mundo não é saudável, é uma condição de quem não soube aprender ou está doente. Deixar apagar a memória do tempo vivido não é saudável, é coisa de quem não quer aprender ou está doente. Que toda a história já vivida sustente nossas memórias. Que cada vida ceifada por descuido, descaso ou negligência, possa ser lembrada não como um número, mas como um pedacinho da nossa memória coletiva. Que todo o tempo e toda experiência partilhados possa nos fortalecer e nos qualificar enquanto seres mais humanos. 


 

domingo, 4 de abril de 2021

REIVENTANDO OS ENCONTROS DE PÁSCOA

Se você já compreendeu o momento frágil pelo qual o mundo está passando, a Páscoa de 2021 será uma Páscoa diferente. Os almoços em família serão ainda menores, muitos encontros serão virtuais, outros tantos serão em estado de solitude, no encontro consigo mesmo. Penso que esta será uma Páscoa especialmente difícil para os avós e tios avós, pois os mais velhos são o grupo com maior risco de complicações pela COVID-19. Nesse tempo de cuidado extremo e necessário, a Páscoa será diferente para todos que gostam de celebrar a vida, mas compreendem o momento presente.

Escrevo esse texto pensando, de modo especial, nos avós e tios avós, mas também em tios, padrinhos, irmãos, filhos, sobrinhos. Nesta Páscoa, em que o distanciamento físico se faz ainda mais necessário, que tal puxar uma conversa por telefone, ou fazer uma chamada de vídeo para contar uma história de Páscoa para os pequenos (ou, para os já crescidos)? Pode ser uma memória de algo que você tenha vivido.

Só não vale aquele papo de que antigamente tudo era mais difícil. Afinal, esse último ano não foi fácil pra ninguém. Também não vale ficar naquela conversa de que no seu tempo tudo era melhor, blá, blá, blá... Tem que ser uma história gostosa, que conecte seus queridos a você, que vá fortalecer os laços e produzir memórias afetivas.

Vale história inventada, vale colocar açúcar e confeitar a memória. O importante é o encontro e o significado do encontro, é partilhar o tempo, é dar valor para o que, de fato, é importante. Se não dá para enlaçar com os braços quem você ama, enlace com histórias e memórias e faça florescer um novo modo de celebrar a Páscoa!! Boa Páscoa!!