Mensagens motivacionais com frequência me
desmotivam. Excesso de otimismo, geralmente me deixa ranzinza, não porque sou
pessimista, mas porque penso que a gente precisa ser feliz com os dois pés na
realidade. Pensar positivo ajuda a não deixar a peteca cair, mas não resolve o
problema. Metáforas, no entanto, mexem comigo, porque me permitem pensar, a
partir das minhas referências e das mirabolâncias que sou capaz de produzir.
Essa história de “não deixar a peteca cair”, por
exemplo. Já fico aqui pensando que pra peteca não cair é preciso uma raquete,
ou uma mão com desejo de pegá-la. Sem a mão, a raquete também não serve pra
nada. E sozinho, nosso braço irá cansar se segurar a peteca por muito tempo. E
sem parceiro pra jogar a peteca, o jogo fica sem graça.
Problemas, na vida ou na matemática, existem para
serem resolvidos. Não conheço problema, ou conta matemática, que tenha se
resolvido só com o desejo, é preciso raciocínio, estratégia e, por vezes,
auxílio. Muitas vezes não somos capazes de resolver nossos cálculos, ou
calcular as rotas da vida, sozinhos. Algumas vezes precisaremos de ajuda, outras
vezes, seremos nós a ajudar.
Quem está de fora de uma situação complexa, ou
enrolada, sempre enxerga o problema e sua conjuntura, por um ângulo diferente. Nossa
perspectiva muda de acordo com a nossa posição frente a cada situação. Por
isso, empatia e solidariedade são tão fundamentais. Olhar para o outro, tentar perceber
sua perspectiva, ajuda-lo a resolver alguma situação, pode nos ajudar a elaborar
e até resolver nossas próprias questões, pois aprendemos a olhar para a vida
por ângulos diferentes, o que sempre amplia nosso olhar sobre ela.
Viver pode ser motivador, especialmente quando
estamos dispostos a aprender com as petecas que a vida nos oferece. Muitas
vezes, uma ou outra peteca cairá no chão por falta de habilidade do jogador,
porque não calculamos a rota, porque não ouvimos a opinião de quem estava
observando com certa distância, ou de quem já deixou muitas petecas caírem no
chão. Outras vezes, acertaremos na peteca com tanta força que ela sairá do
nosso campo de visão.
Jogar peteca só é divertido quando conseguimos
ajustar a intensidade da força e o ângulo correto para acertar a raquete do
outro jogador. E, em contra partida, nosso parceiro devolve a peteca com a
mesma intensidade. Quando é assim, nos divertimos juntos, brincamos,
partilhamos o momento. Quando um quer ser mais que o outro, ter mais que o
outro, quando há um vencedor, o jogo acaba.