quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A URGÊNCIA NOSSA DE CADA DIA (CRÔNICA DA SEMANA)


(Concepção abstrata feita de engrenagens, elementos de relógio, mostradores e dinâmicas swirly linhas sobre o assunto de horários, prazos, progresso, passado, presente e futuro — Foto de agsandrew)
São estranhas nossas urgências, uma pressa que não existia cinco minutos atrás e que de repente torna-se questão de vida ou morte. As pessoas congelam o tempo durante a final de um campeonato de futebol, durante o último episódio da telenovela e a transmissão de casamentos reais, congelam até quando o olhar e os polegares caem sobre a tela do celular. Mas logo que o evento acaba, surgem as urgências. É como se as pessoas, de repente, saíssem de um loop de tempo e resgatassem memórias de um cotidiano que estava em estado de espera. De súbito a roda gigante da vida volta a girar.
Por cerca de uma ou duas horas – um pouco mais para os casamentos de príncipes e princesas – a vida pode esperar. Estes momentos, em que se é sugado para um outro lugar e a realidade desaparece com todos os seus problemas, são necessários. Questionável é o despertar acelerado. Esses pequenos anestésicos contribuem para que a complexidade do aqui e agora possa ser vivida sem maiores sofrimentos, uma vez que não podemos resolver todos os problemas do mundo. Muitas vezes, somos incapazes de resolver até mesmo nossos próprios problemas.
Mas, talvez, se as pessoas fossem capazes de se envolver umas com as outras do mesmo modo como se envolvem com uma partida de futebol, na discussão pela vida dos personagens da novela, ou do casal famoso que acaba de se separar, fôssemos capazes de perceber que a vida real pode ser tão intensa e interessante quanto a ficção.
Nietzsche, o filósofo alemão, disse que temos a arte para não morrer da verdade. Para os que amam os esportes essa máxima nietzschiana também é verdadeira, por isso há que se compreender e respeitar os que amam as artes, assim como os esportes, o artesanato, a culinária, tudo aquilo que lhes permite não morrer da verdade.
É preciso encontrar formas de dar vazão aos sofrimentos cotidianos, sejam eles do tamanho que forem, para que se possa viver bem. Mas não devemos, com isso, esquecer de viver o mundo que nos pertence, que pode ser tão fantástico ou distópico quanto os universos ficcionais. Também temos nossos zumbis, eles só são mais bem disfarçados (ou não) que os das histórias de ficção, mas temos também fadas, elfos, magos, sereias.
Quando ocorre alguma mudança no nosso percurso e precisamos viver a realidade um pouco diferente do que estamos habituados, estranhamos. Podemos viver as nossas dores, nosso sentir, nossos afetos, de modo solitário, ou podemos partilhar da experiência do outro, daqueles nos são parceiros de jornada. Por vezes, a dificuldade do outro é tão maior que a nossa, que conseguimos redimensionar nosso modo de sentir e pensar a vida.
É importante lembrar que no jogo da vida algumas partidas são ganhas e outras perdidas, mas sempre encontramos pelo caminho torcedores, jogadores e equipe técnica, dispostos a jogar juntos e torcer. As situações cotidianas podem ser mais ou menos urgentes, mas quase nunca estamos sós para enfrentar as adversidades.  Importante mesmo, urgente de verdade, é lembrar de viver a vida real, se possível com empatia, respeito e desejo de (con)viver.

QUERO GENTE LUZ PARA ILUMINAR MEU CAMINHO (CRÔNICA DE ANIVERSÁRIO)


Aniversário não é final de ciclo, fim de ciclo é véspera. Aniversário é dia de novo ciclo, de recomeço, de reflexão, de olhar pra trás com olhar crítico e ao mesmo tempo amoroso, para que se possa seguir o caminho honrando o passado. O caminho deste último ano não foi fácil, foram perdas irreparáveis, momentos difíceis, que exigiram e seguem a exigir de mim um novo modo de caminhar. Nunca tive crise de identidade em idade alguma, nem nos 30, nem nos 40 e não vai ser nos 47 que vou ter, apesar do nó que o coração carrega nesse novo início de caminhada. Os outros 46 iniciaram-se, sem dúvida, com mais leveza, foi mais fácil olhar pra frente com olhar carregado de esperança.
Neste primeiro passo, nessas primeiras palavras que escrevo no primeiro dia dos 47 (e não poderia iniciar de outra forma que não escrevendo – e também preparando uma vitamina para o filho -), preciso reinventar esperança no olhar para reconstruir afetos de uma casa ¼ mais vazia e de um país um tanto mais devastado em sentimentos e afetos. Não sei dizer o que dói mais, pois as duas perdas, a do filho e a da crença de éramos seres humanos melhores do que temos nos mostrado, doem tanto que não há como medir. Uma é a dor pelo filho que se foi, a outra é a dor pelo futuro do filho que segue a caminhada ao meu lado, uma caminhada de tantas incertezas (só incertezas), inundada por palavras de ódio que reverberam pelos muitos cantos do país, a nutrir o desamor, o preconceito e a intolerância.
Mas sempre, nestes momentos de tristeza, vejo apenas duas possibilidades, dois caminhos que se apresentam em sentido vertical. Ou me jogo no poço, ou sigo aqui em cima, onde ainda posso vislumbrar caminhos horizontais. Já sei como é lá embaixo e também sei o tanto que é difícil saltar pra fora. Então fico aqui, porque sei que aqui em cima, se tem gente que apaga a vela para escurecer o caminho (seu e dos outros), há tantos outros a ser luz para iluminar o caminho (seu e dos outros). Eu quero ser luz e também me deixar cercar de seres luz.
Não sei os caminhos que se apresentarão daqui pra frente, mas sei que quero luz para poder trilhá-los. Sei que a saudade do filho só fará crescer, mas quero alimentá-la de boas memórias e não de tristezas. Sei que a vida do filho que segue ao meu lado me precisará forte, âncora e luz. Não sei pra onde vamos, nem pra onde vou, mas sei que quero estar cercada de gente luz, que saiba o significado das palavras amor, amizade, laços e também namastê, shalom, ubuntu e ho'oponopono.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

COMO NO JARDIM DE INFÂNCIA (CRÔNICA DA SEMANA)


Quando eu era criança gostava de comer apenas a clara do ovo, depois de um tempo preferi a gema, hoje como o ovo inteiro, preparado de diferentes formas. Enquanto eu preferia o ovo preparado de um jeito, depois de outro, a ciência provou que o ovo era um veneno, depois que era antídoto. Foram tantas as controvérsias sobre o tema que Luís Fernando Veríssimo certa vez escreveu que deveria receber algum tipo de indenização pelos ovos que deixou de comer.
Na vida é assim, volta e meia mudamos de opinião – e podemos mudar –, especialmente depois que experimentamos novas possibilidades, conhecemos novos fatos, ponderamos nossas escolhas. Mudar de opinião pode ser sinal de amadurecimento, quando decorre de reflexão, análise crítica, ponderada e consciente.
Mas é preciso lembrar que as crianças também mudam de opinião com bastante frequência, mudam até as regras da brincadeira porque não gostam de perder ou ficam chateadas. Quando sentem-se acuadas, crianças pequenas não discutem, apenas reagem. Se o “melhor amigo” faz algo que não gostam, deixam de ser melhores amigos para se tornarem arquirrivais em uma fração de segundos.
O mundo virou um Jardim de Infância com uma professora muito rígida e que pouco entende de crianças. Reflete-se pouco, dialoga-se menos ainda e a leitura crítica/ contextualizada é precária. Não sei se é falta de aptidão leitora ou falta de vontade de compreender o texto (escrito, falado, desenhado) em um contexto mais amplo.
Se interpretamos toda opinião alheia como uma crítica pessoal, estaremos reduzindo a lente pela qual contemplamos o mundo, escolhendo olhar para todo dito por um viés estreito e reducionista. Faremos como as crianças, que quando ainda pequenas só conseguem pensar o mundo colocando-se como centro dele.
Andamos a viver uma fase um tanto egoica da nossa história, onde todo posicionamento é interpretado não a partir de fatos, evidências históricas ou científicas, mas a partir do que cada um pensa ser a verdade absoluta.   Assim, aquilo que me agrada pela manhã, pode me ser muito indigesto à tarde e indesejado à noite.
Vejo, com frequência, pessoas exaltarem ardentemente o trabalho de um escritor, cartunista, colunista, num dia e criticarem raivosamente no dia seguinte, sendo que muitos destes profissionais tem em sua arte uma digital impressa, são coerentes no modo pelo qual olham o mundo, não ficam flutuando.
Foi o que aconteceu esta semana com o brilhante Alexandre Beck, autor das tirinhas do Armandinho. Uma tirinha que sempre foi marcada pela sensibilidade e também pela criticidade. Armandinho e sua turma são crianças super antenadas e questionadoras. Através de seus personagens, Alexandre Beck faz, em apenas três quadrinhos, uma síntese de situações que lemos cotidianamente nos jornais, nas telas de nossos computadores e TVs. Suas tirinhas não inventam, apenas traduzem em outra linguagem o que está dito de muitas formas e é sabido por todos.  
O Armandinho tornou-se um personagem conhecido não porque é uma criança fofa, mas porque é, assim como a Mafalda, um personagem questionador, problematizador. Como esperar que uma criança questionadora seja seletiva? Criança questiona tudo, que é para entender o mundo e suas engrenagens. Como não temer um futuro onde professores, artistas e crianças são ameaçados apenas por pensarem? Queremos mesmo um mundo onde o pensamento crítico seja um ato subversivo?

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

11º SEMINÁRIO A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS


O SEMINÁRIO A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS chega à sua 11ª edição. Participei de 10 das 11 edições desse lindo Seminário idealizado e coordenado pelo querido amigo Celso Sisto. “A Arte de Contar Histórias” acontece anualmente, durante a Feira do Livro de Porto Alegre, é um Seminário que reúne gente bacana, que ama os livros e as histórias. Seminário, como disse certa vez a grande Terezinha Rios, é o lugar onde sementes são seminadas, neste caso, sementes de bons afetos literários. É também lugar de reencontro entre amigos que se querem bem e também de semear novas amizades literárias. Sou grata a cada encontro, a cada sorriso, a cada partilha. Neste ano de 2018 a temática que conduziu e enlaçou oficinas, diálogos e narrativas foi “Histórias de arrepiar: os labirintos do medo e seus mistérios”. Que alegria partilhar momentos incríveis e estar entre grandes nomes da arte de contar histórias, entre eles: Celso Sisto (idealizador, coordenador e curador do Seminário), Ilan Brenman (SP), Danielle Andrade (BA), Katiane Crescente Lourenço (RS), Carla Uhlmann (RS), Milene Barazzetti Machado (RS) e Augusto Pessôa (RJ), com quem tive o prazer (e o desafio) de partilhar o palco. Outros tantos amigos, grandes contadores de histórias agentes de leitura, apaixonados pelas belas narrativas partilharam deste encontro incrível. Que maravilha!! Vida longa ao Seminário A arte de Contar Histórias!! Gratitude a todos e a cada um que fez e faz parte dessa história!! Gratitude especialmente ao Celso Sisto, pela oportunidade de mais uma vez partilhar desse momento!! 
PRIMEIRO DIA
Abertura belíssima com o Grupo Voelendo, da EMEF Alberto Pasqualini, de Porto Alegre (RS), narrando uma belíssima versão do conto de João e Maria. 
  
A palestra de abertura foi com sempre maravilhoso Ilan Brenman, que abordou o tema “Quem tem medo de Lobo Mau? – Uma reflexão sobre o politicamente correto na Literatura Infantil”.
SEGUNDO DIA
Oficina com Danielle Andrade (BA)
 Oficina com Danielle Andrade (BA)
 Oficina com Danielle Andrade (BA)
 Oficina com Katiane Crescente Lourenço (RS)
  Oficina com Katiane Crescente Lourenço (RS)
Narração de Abertura da Mesa Redonda com Carla Uhlmann (RS): 
A lenda do Guaraná 
Mesa Redonda com Danielle Andrade (BA) e Katiane Crescente 
                             Lourenço (RS), mediação de Celso Sisto. 
 

Sessão de histórias com Danielle Andrade (BA)
e Katiane Crescente Lourenço (RS) 
 Sessão de histórias com Danielle Andrade (BA)
e Katiane Crescente Lourenço (RS)
 Sessão de histórias com Danielle Andrade (BA)
e Katiane Crescente Lourenço (RS)
TERCEIRO DIA
Oficina com Augusto Pessoa (RJ)
 Oficina com Augusto Pessoa (RJ)
Oficina com Léla Mayer (RS)
 Oficina com Léla Mayer (RS)
 Oficina com Léla Mayer (RS)
 Oficina com Léla Mayer (RS)
Narração de Abertura da Mesa Redonda com Milene Barazzetti 
Machado (RS): “Veludo Verde”, conto de Marô Barbieri.
 Mesa Redonda com Augusto Pessôa (RJ) e 
Léla Mayer (RS), mediação de Celso Sisto. 
 Mesa Redonda com Augusto Pessôa (RJ) e 
Léla Mayer (RS), mediação de Celso Sisto.
 Sessão de histórias com Augusto Pessôa (RJ) e Léla Mayer (RS)
  Sessão de histórias com Augusto Pessôa (RJ) e Léla Mayer (RS)
  Sessão de histórias com Augusto Pessôa (RJ) e Léla Mayer (RS)
  Sessão de histórias com Augusto Pessôa (RJ) e Léla Mayer (RS)
  Sessão de histórias com Augusto Pessôa (RJ) e Léla Mayer (RS)
e despedida dessa gente querida!!