domingo, 30 de dezembro de 2018

AS DEZ DICAS DE MÔNICA RAOUF EL BAYEH PARA A VIRADA DO ANO



"1- Use branco! - Não falo da roupa, a roupa é o de menos. Use branco na alma. Não entre em disputas. Não chute cachorro morto. Entre um desaforo e uma resposta atravessada, escolha a paz.
2- Varra a casa, do fundo até a porta. Varra tudo, mágoas, desgostos, rancores, amores não correspondidos. Varra! Aspire! Espane! Não deixe nem poeira! Entre limpo!
3- Quebrou? Jogue fora. Se for a sopeira que você herdou da sua avó, conserte. Sua avó agradece. Mas em se tratando de amores, trabalhos, relações de todo tipo, amizades... Quebrou? Rachou? Avalie se vale guardar. Investir em quem não merece é desperdício de energia. Ponha a fila para andar.
4- Louro na carteira dizem que garante dinheiro. Mas se preferir um moreno, não faça cerimônia. Vá em frente!
5- Use cor amarela, a cor amarela é a cor da prosperidade. ajuda nos caminhos do sucesso, mas não faz milagre. Então use amarelo e trabalhe, se esforce, estude, faça mais que o melhor possível. O melhor possível você já conseguiu até aqui.
6- Pule sete ondas. Aliás, pule: ondas, desaforos, prejuízos. Se não der para pular, desvie.
7- Use lingerie nova, dizem. Fala sério, isso não é só no primeiro dia do ano! Jogue fora aquela calçola velha, desbotada, furada, de elástico frouxo. É um corta-tesão danado. Pior que encosto. Sem maiores detalhes! Lixo com ela!
8- Coma lentilha, uvas, romã... Olha só, coma o que quiser. E coma, principalmente, a vida! Coma com gosto! Caia de boca! Se lambuze!
9- Não coma peru ou frango, porque ciscam para trás, dizem por aí. Agora vamos combinar, você gruda no passado como chiclete em cabelo, passa anos esperando o amor que já se foi, vive atrelada ao que já está desfeito? Não ponha a culpa no pobre do frango. Você cisca para trás muito mais do que ele. O caminho é em frente!
10- Não deixe roupas viradas pelo avesso! - Isso se você acreditar que avessos são ruins. Não são! Avessos são nosso lado mais verdadeiro, nossa versão mais crua. Desvire, se não quiser ficar exposta por aí. Avessos devem ser mostrados a poucos. Apenas aos que merecem.
Algumas pessoas passam a vida viradas como tartarugas de casco para baixo. Balançam pernas e braços. Aflitas, não saem do lugar.
Um ano novo começa. Mas só vale se você se desvirar. Desvire a vida, os amores, os afetos. Arrume a alma. Faxine seu coração. Ponha a vida para andar.
Vida é renda de bilro. Teçamos o ano novo com capricho. Sem nós, sem embaraços. Nos melhores caminhos e nas mais lindas cores. Teçamos a vida que vamos vestir. No nosso número, sem apertos, sem sobras inúteis. Na plena beleza do que cada um merece e pode ter.
Dois, zero, um e nove - essa é a senha para o recomeço"
Texto adaptado de Mônica Raouf El Bayeh

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

SINAL AMARELO (CRÔNICA DA SEMANA)


Certa vez, quando meu filho tinha uns 10 anos de idade, eu levava ele e dois amigos para o treino de futebol e passei no sinal amarelo. Em seguida, os três meninos, sentados no banco de trás, começaram a falar sobre o fato de que o sinal amarelo existe para informar que devemos diminuir a velocidade, mas que os adultos costumam pisar mais forte no acelerador quando percebem o sinal amarelo. Os três seguiram boa parte do caminho “filosofando” sobre o assunto. E eu, bem quietinha, no banco do motorista, pensando que nós, pessoas grandes, devemos ouvir mais as crianças.
O ano está em sua última semana e o número de acidentes de trânsito aumentou vertiginosamente antes mesmo do Natal. Todo mundo correndo, nas estradas, nas calçadas, no cotidiano, numa pressa interminável para dar conta de coisas que haviam sido esquecidas, ou deixadas de lado, durante o ano todo. Veja bem, se não fizemos algo durante boa parte do ano é porque não deveria ser algo tão urgente. E se não o foi ao longo das outras 51 semanas do ano, porque seria urgente agora?!
A coisa mais importante que deveríamos fazer ao chegarmos ao fim de mais um ano vivido é avaliá-lo. Pensar no que foi bom e acrescentou, no que não fez diferença para nós e no que nos fez mal, para que possamos projetar o próximo ano melhor, para que não comecemos um novo ciclo repetindo os mesmos velhos erros.
O ano que se encerra foi um ano marcado pelo aumento da violência de todos os tipos, pela falta de diálogo, pelos ataques verbais, pelas palavras mentirosas jogadas ao vento, sem pudor, sem medida, sem medo das feridas que abririam. O ano que se encerra marcou um capítulo ímpar na história da desumanização. Notícias falsas tomadas como verdades, dogmas apontados como modelo de moral, retrocessos disfarçados de avanços, desrespeito mascarado de ética, gentileza jogada no lixo.
O semáforo da esquina entre 2018 e 2019 está com o sinal amarelo. É hora de pisar no freio, desacelerar e ouvir mais as crianças. É hora de repensar a vida, de pensar como queremos entrar 2019. O ano que se aproxima promete ser de muitos desafios. Talvez não possamos mudar as ordens que causarão desordem, mas podemos escolher como nos colocar frente aos desafios impostos. Podemos escolher quanto de energia queremos despender com cada desafio e também quais lutas cotidianas iremos travar.   
Se é para errar, que possamos ser criativos e errar diferente, errar novos erros. Para isso é preciso avaliar os próprios tropeços e ter senso crítico, sem perder a doçura para consigo e com os que nos cercam. Que em 2019 prevaleça a gentileza, a cultura, a arte, a leitura literária, a imaginação, a criatividade, a comunicação não-violenta, a empatia e o respeito por todas as diferenças!! Que em 2019 sejamos um pouco mais humanos!!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

CORRERIA DE FIM DE ANO (CRÔNICA DA SEMANA)


Todo ano é a mesma coisa, passou setembro e as pessoas já começam a dizer que o final do ano está aí, que logo logo já é Natal. Setembro é o nono mês do ano, se fizermos o cálculo direitinho, veremos que temos ainda três meses para viver, trabalhar, estudar, organizar, desfrutar. Em outubro ainda podemos escolher se passaremos os próximos 90 dias de mãos estendidas ou de punhos cerrados, se nossas palavras e nossas ações serão de apoio e acolhida ou de destruição.  
Para muitos, 90 dias é uma vida toda, ou o que resta dela, para estes não há tempo a perder, todo o tempo vivido é precioso. Porque razão tratamos nosso tempo como se ele fosse infinito? Sabemos que não somos eternos, mas vivemos como se pudéssemos deixar para viver depois, para sermos gentis depois, para fazermos escolhas depois. Tocar a vida não é viver.
Quando falo isso muitos pensam: - mas eu tenho que trabalhar, tenho família para sustentar, não tenho dinheiro para gastar com futilidades. Não estou falando de futilidades, nem de gastar dinheiro. Falo de outro investimento, falo do tempo partilhado. Falo das duas cuias de chimarrão tomadas com a vizinha quando chegamos do trabalho, ou então no final de semana, falo das palavras partilhadas com a moça do caixa do mercado – você não vai levar mais tempo no caixa se for gentil. Falo da partida de futebol, pife, moinho ou jogo da velha, jogada com os filhos, sobrinhos, afilhados, netos ou amigos. Falo da leitura daquele conto, crônica ou poesia que nos faz repensar a vida; da caminhada com amigos, ou solitária e contemplativa. Falo de estarmos juntos no mundo real, porque dessa vida só levaremos nossas memórias.
Fim do ano é 31 de dezembro. Ou seja, estamos quase no fim do ano, ainda faltam alguns dias. Mas é só o fim deste ano, não o apocalipse. Se não conseguirmos finalizar algumas tarefas, haverá um novo ano todinho pela frente. Se não chegarmos lá, outros terão que finalizar nossas tarefas, mas ninguém poderá finalizar a nossa amizade, o nosso estar junto com, o nosso bem querer.
Antes do fim do ano ainda temos o Natal, momento em que muitos passarão com seus familiares, outros entre amigos e há também os que escolheram desfrutar da própria companhia. Penso que o importante é celebrar a vida, com a saúde que se tem - por vezes potente, outras nem tanto -, no lugar onde se está, cuidando ou sendo cuidado, acompanhado ou sozinho. Celebrar porque se está vivo, porque nessa condição ainda podemos fazê-lo.
Se faça presença neste Natal. Aproveite os últimos dias do ano. Pise no freio, porque por mais que aceleremos, o ano vai acabar, o mundo não.  Viva o momento presente, seja você o presente!! Valorize as pequenas coisas, se alegre com o que é capaz de realizar, não dependa dos outros para ser feliz, mas seja feliz com os outros, pelos outros. Que o Natal seja bom, para todos e em qualquer lugar, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê!!