quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

NO MEU TEMPO TUDO ERA MELHOR


No meu tempo a vida era melhor. No meu tempo, as crianças eram mais educadas. No meu tempo, os adolescentes eram menos rebeldes. Essas são afirmações que ouço com frequência, especialmente quando mães estão reunidas, seja em reuniões de escola ou em confraternizações.
Mas quanto somos capazes de lembrar da nossa infância e adolescência de modo real? É muito comum olharmos para o passado com saudosismo. Hoje conseguimos rir das quedas de bicicleta na infância, não porque o joelho esfolado ou o braço quebrado não doeram, certamente doeram muito. Mas, a memória de longo prazo, ao contrário da memória de curto prazo (que é mais masoquista) parece elaborar melhor as experiências. A memória de longo prazo, quando permitimos, torna-se uma velha sábia. Caso contrário, vira uma velhinha muito rabugenta.
Adolescentes, em sua maioria, sempre foram rebeldes de alguma forma e em alguma medida. Não foi a internet que plantou a rebeldia nos adolescentes. A série “Anos Rebeldes”, produzida no início dos anos 90, retratava a trajetória de um grupo de adolescentes no início da década de 1960. O Festival de Woodstock, o Movimento Tropicalista e até a Jovem Guarda, foram todos movimentos de cultura e contracultura que ocorreram na década de 1960. Sim, os jovens já eram rebeldes nos anos 60 e muito antes disso. Num mundo de proibições, a rebeldia se faz ainda mais necessária.
- Mas é que na minha época, a gente não ficava tanto tempo na frente do computador ou no celular (!), dizem alguns. Verdade, mas é porque na nossa época não havia celular, nem computador, nem internet, nem TV à cabo. Portanto, não temos como saber como seríamos nós naquela época se os tivéssemos, só podemos imaginar. E vamos, certamente, imaginar com nossa memória saudosista.
- Mas eu jamais respondia para os meus pais, - retrucam. Será mesmo que a falta de diálogo era um privilégio? Será mesmo que vamos carregar pelo resto dos séculos essa herança do patriarcado? Adolescente que prende o grito na garganta não é, necessariamente, um bom filho, é apenas um filho obediente e dócil. Prefiro o diálogo sincero, o contraponto, a abertura, que permite colocar pra fora todos os afetos, que oscilam de tempos em tempos, de temas em temas.
O diálogo sempre aproxima mais do que a obediência e o silêncio. Crianças são infantis e adolescentes são rebeldes. Seus corpos, assim como seu sistema nervoso, ainda estão em processo de crescimento e amadurecimento. Seres humanos precisam aprender a ver e viver no mundo aos pouquinhos. Os mais experientes precisam ensinar os mais novos e também aprender com eles.
Quando uma criança nasce, quando o adulto se dispõe a cuidar de uma criança, nasce nesse desejo um pai e/ ou uma mãe. Não nascemos pais, nos tornamos pais com nossos filhos e esse é um processo de ensinar e aprender mútuo. Aprendemos todos os dias com nossos filhos, ou deveríamos aprender a aprender todos os dias com eles, ao invés de querer ficar apontando como no nosso tempo tudo era melhor. O nosso tempo é hoje e a memória guarda o passado. Então, façamos do hoje um passado melhor para nós, nossos filhos, sobrinhos, enteados, netos, alunos.

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