quinta-feira, 27 de agosto de 2020

DIREITO À DIFERENÇA

Parece tão batido falar em combater o preconceito e a discriminação. E, de fato, não seria necessário combatê-los, se não existissem pessoas preconceituosas, que discriminam outras pessoas por sua crença, raça ou condição. Mas, como o desumano compõe o humano, são necessárias leis que assegurem, em alguma medida, o convívio entre os iguais na espécie, ainda que diferentes em suas características, credos e culturas.

Há 56 anos, de 21 a 28 de agosto, é celebrada a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla. Mas, apenas em dezembro de 2017, foi sancionada a lei nº 13.585, que coloca esta data oficialmente no calendário nacional e a reconhece como um período não apenas festivo, mas também de reflexões e combate ao preconceito.

A lei diz que “as comemorações da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla visam ao desenvolvimento de conteúdos para conscientizar a sociedade sobre as necessidades específicas de organização social e de políticas públicas para promover a inclusão social desse segmento populacional e para combater o preconceito e a discriminação”.

Que maravilha seria a vida, se já tivéssemos compreendido que todos somos iguais em direitos, ainda que diferentes em condições de observar e perceber o mundo e aprender com nossas experiências, ainda que desiguais nos modos de andar pela cidade, de frequentar a escola e o trabalho, de exercer a cidadania. Mas, ainda olhamos para o diferente com estranhamento, medo e até desprezo, como se o diferente de mim, fosse um alienígena.

Alteridade trata das relações com o outro, sendo descrita como uma qualidade que se constitui através de relações de contraste, onde eu me distingo e diferencio do outro e o reconheço como diferente de mim. Mas, é preciso, antes de tudo, reconhecê-lo, como sujeito único, que diferente de mim, faz com me torne único também, em potencialidades e limitações.

A luta das pessoas com deficiência é uma luta por igualdade de direitos. Pelo direito de locomover-se, de estudar, de aprender, de trabalhar, de ser reconhecido em suas potencialidades e não apenas em suas limitações.

Neste ano de 2020, o tema da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla é “Protagonismo Empodera e Concretiza a Inclusão Social”. Um tema que não poderia ser mais apropriado para lembrar esses 56 anos de luta pelo protagonismo da pessoa com deficiência. Estamos ainda engatinhando, que possamos seguir em frente, de cabeças erguidas, andando juntos, de mãos dadas, mas cada um do seu jeito, com sapatos, tênis, bengalas ou cadeiras adaptadas.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

AOS MESTRES COM CARINHO

 

Das muitas memórias de infância que trago na lembrança, estão as brincadeiras de “aulinha”, tanto aquelas em que eu brincava de ser professora das minhas bonecas, quanto as que minha amiga Vanisse, escrevendo com giz num pedaço de madeira, imaginava ser minha professora e de seus irmãos. Não sei se as coisas aconteceram exatamente assim, mas são essas as imagens que carrego na memória.

Talvez, porque meus pais fossem professores apaixonados, ou porque o espaço escolar fizesse parte do meu mundo, desde muito pequena, eu sempre quis ser professora. Também quis ser bailarina, caminhoneira, publicitária, mas nunca deixei de me imaginar na personagem da professora.

No ensino médio, cursei magistério e, entre as professoras que me desafiaram a pensar o mundo para além das margens dos rios que cercavam a minha cidade, estava Nara. Mulher imponente, com vozeirão potente e sorriso largo. Lembro que, nas tardes quentes, Nara permitia que tivéssemos aulas embaixo de uma árvore. Ter aula fora das paredes da sala de aula, nos parecia muito revolucionário naquele momento.

Talvez, por ter crescido dentro da escola, por ter tido pais professores e convivido com mestres inspiradores, os filmes que contam histórias de professores apaixonados e revolucionários, sempre me encantaram. Lembro, num único piscar de olhos, de filmes como “Ao Mestre com carinho” (1967), “Conrack” (1974), “Sociedade dos poetas mortos” (1990), “O sorriso de Monalisa” (2003), “Escritores da Liberdade” (2007), “Entre os mundos da escola” (2008).

Os professores Mark Thackeray, Pat Conroy, John Keating, Katherine Watson, Erin Gruwell e François Marin, personagens destes filmes são fortes, revolucionários, inspiradores no seu modo de compreender o mundo e nas metodologias que utilizavam. Embora todos eles tenham passado por grandes desafios, nenhum enfrentou uma epidemia mundial.

Nossos professores, aqueles que moram fora das telas do cinema e da TV, especialmente os que lecionam em escolas públicas, e que, apesar dos desafios cotidianos da docência, deparam-se todos os dias com condições precárias de trabalho, má remuneração (isso quando não tem seus salários parcelados), falta de reconhecimento e de respeito pela sua trajetória, pouco ou nenhum incentivo para qualificação profissional, são cobrados como se, dentro e fora dos muros da escola, vivêssemos num universo paralelo.

Esses professores reais, estão ainda mais sobrecarregados, precisando aprender a lidar com tecnologias que nunca tiveram contato. Falo daqueles que tem acesso a alguma tecnologia, porque muitos não o tem. E quando tem, precisam pensar em estratégias de ensino para alunos que possuem e para os que não tem acesso à virtualidade. Só quem é professor, ou convive com um, sabe o desgaste do acúmulo de tarefas inacabáveis, de cobranças intermináveis, porque passam nossos professores neste período.

Não abrir as escolas durante uma pandemia, não é preguiça, não é falta de vontade de trabalhar, porque todos estão trabalhando muitas vezes mais do que se estivessem com suas crianças e seus estudantes em sala de aula. Se a vida não está fácil para os estudantes e suas famílias, tenha certeza que não está mais fácil para os professores, que além de docentes, também são pais e mães. 

O ano não estará perdido se chegarmos em 2021 vivos, com saúde e sem perder as pessoas que amamos. O ano só está perdido, até o momento em que escrevo este texto, para os mais de cento e onze mil brasileiros que morreram em razão da COVID-19 e para os outros milhares que também partiram em razão de outras doenças.

Por isso, se você está vivo e com saúde, agradeça e se esforce para fazer valer os trabalhos daqueles que estão dando o seu melhor para que possamos passar por tudo isso sãos e salvos.