domingo, 31 de julho de 2016

SOU MAIS JÚLIA

Vivemos tempos tristes aqui do Brasil, e penso que seguiremos assim por muito tempo. Época de total falta de bom senso, de respeito, de escuta. Tempo onde as pessoas não apenas usam antolhos, COMO direcionaram seu único senso de direção aos seus próprios umbigos. Muito triste!!
Essa semana, um médico novato debochou de um paciente nas redes sociais pelo seu modo simples de falar e foi afastado do cargo (http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2016/07/medico-debocha-de-paciente-na-internet-nao-existe-peleumonia.html).
Pois bem, depois que esse babaca "enjalecado" (e continuaria sendo um babaca "enjalecado" se fosse graduado em fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, fonoaudiologia, enfermagem, é um babaca pela postura - ou falta dela - e não pela sua profissão) fez essa publicação estúpida nas redes sociais, a médica Julia Rocha fez uma publicação sensível para contrapor, de um modo amoroso, a publicação do colega de profissão.
Hoje para minha surpresa me deparo com a publicação de um mamífero/bípede/gaúcho, fazendo um comentário ainda mais infeliz do que o do menino, carregado de um preconceito ainda maior, ainda mais contundente.
Mais triste, porém, é ler os comentários do post desse cara, carregados de raiva e preconceito. De chorar!! Começo o semestre letivo com essa polêmica toda no ar. Muito a ser discutido sobre ética nas profissões!!
Peço aos conhecidos que conhecem a Julia Rocha, que digam à ela da minha solidariedade e admiração pelos seus múltiplos fazeres. Aos conhecidos que conhecem o Milton Pires não precisam dizer nada - ele não merece o meu verbo -, pois uma criatura incapaz de compreender que um ser humano dá conta de fazer mais de uma tarefa bem feita e ser atuante em diferentes campos com a mesma competência e dedicação, é porque é - no mínimo - raso e limitado. Pobrezinho!!
Entendo a Júlia, sou fisioterapeuta, professora e narradora oral. Sou plenamente realizada sobre o tatame, na sala de aula e no palco. Faço o meu melhor em todos os espaços de atuação, com dedicação, estudo e competência. Novos tempos, tempos em que podemos exercer nossos múltiplos fazeres e amar tudo que fazemos!!
Meu carinho, Julia!! Minha tristeza, Milton!!

quinta-feira, 28 de julho de 2016

LANÇAMENTO DO E-BOOK LITERATURA, LINGUAGEM E MÍDIA

Muito feliz com a chegada de mais uma publicação, o e-book com a seleção de trabalhos do VII Colóquio Nacional Leitura e Cognição. Nele participo com o artigo "A MEDIAÇÃO DE LEITURA NA ESCOLA, UM OLHAR A PARTIR DE VYGOTSKY" (pág. 271). 
O e-book está disponível da página do evento e pode ser acessado pelo link: http://www.unisc.br/…/archiv…/literatura_linguagem_midia.pdf

sexta-feira, 22 de julho de 2016

NEUROAPRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA DAS NEUROCIÊNCIAS EM SÃO VICENTE DO SUL (RS)

Hoje eu fui a São Vicente do Sul (RS) conversar com os professores da rede municipal sobre Neuroaprendizagem. A viagem foi longa para mim que sou preguiçosa para dirigir longas distâncias. Fui sozinha, acompanhada pelos meus CDs do Nelson Coelho de Castro, do Nei Lisboa, do 5 a seco e da Legião Urbana. Fui cantando e pensando na vida, nesses percursos que ela decide e que podemos desfrutar se formos capazes de deixar as janelinhas abertas. Vou a trabalho, mas vou também para rever amigos queridos, compadres amorosos. O Chico (Francisco Solano Trindade de Lima - era assim que estava escrito seu nome no meu primeiro caderno de chamada como professora da Unisc), que hoje está fazendo um belíssimo trabalho como Secretário da Saúde do município, foi meu aluno, meu orientando, tornou-se amigo e compadre. E uma vez compadres, somos família. Ganhei uma comadre amorosa e dois "sobrinhos" emprestados. 
Durante à tarde foi a vez trabalho! Um trabalho amoroso, com um grupo de professores que aceitou o diálogo e os desafios que propus para falarmos sobre a "Aprendizagem na perspectiva das neurociências", buscando através do conhecimento científico e também de vídeos, música, dança, narração de histórias, diálogos e troca de experiências, mostrar alguns aspectos fundamentais do ponto de vista das neurociências sobre os processos de aprender. Espero ter desacomodado, plantado sementes em solos férteis e corações ternos. Sei que deixei boas sementes e sei que novas amizades também brotarão dessas sementinhas!! Me realizo plenamente nesses encontros com professores, pois estou entre pares, entre colegas de jornada, que compartilham das mesmas angústias e do mesmo prazer de ser, entre tantas possibilidades, mediador de conhecimentos. 
À noite foi momento de estar com os amigos à beira do fogão à lenha para vivermos as saudades e renovarmos os votos de amizade. Pela manhã, antes da despedida, foi momento de chimarrão ao lado do fogão a lenha, café com leite, papo gostoso e almoço antes da partida. Vou reabastecida de afetos e cheia de vontade para voltar e compartilhar mais conversas, mais dúvidas, mais experiências, mais afetos!!



 








segunda-feira, 18 de julho de 2016

COMO ASSIM, ESCOLA SEM IDEOLOGIA? - UM TEXTO DE MARCELO RUBENS PAIVA

Como assim, escola sem ideologia?
A escola sem um professor de história de esquerda é como uma escola sem pátio, sem recreio, sem livros, sem lanchonete, sem ideias. É como um professor de educação física sem uma quadra de esportes, ou uma quadra sem redes, ou crianças sem bola.
O professor de história tem que ser de esquerda. E barbudo. Tem que contestar os regimes, o sistema, sugerir o novo, o diferente. Tem que expor injustiças sociais, procurar a indignação dos seus alunos, extrair a bondade humana, o altruísmo.
Como abordar o absolutismo, a escravidão, o colonialismo, a Revolução Industrial, os levantes operários do começo do século passado, Hitler e Mussolini, as Grandes Guerras, a Guerra Fria, o liberalismo econômico, sem a leitura da luta de classes, uma visão da esquerda?
A minha do colegial era a Zilda, inesquecível, que dava textos de Max Webber, do mundo segmentado do trabalho. Ela era sarcástica com a disparidade econômica e a concentração de renda do Brasil. Das quais nossas famílias, da elite paulistana, eram produtoras.
Em seguida veio o professor Beno (Benauro). Foi preso e torturado pelo DOI-Codi, na leva de repressão ao PCB de 1975, que matou Herzog e Manoel Fiel Filho. Benauro era do Partidão, como nosso professor Faro (José Salvador), também preso no colégio. Eu tinha 16 anos quando os vimos pelas janelas da escola, escoltados por agentes.
Outro professor, Luiz Roncari, de português, também fora preso. Não sei se era do PCB. Tinha um tique nos olhos. O chamávamos de Luiz Pisca-Pisca. Diziam que era sequela da tortura. Acho que era apenas um tique nervoso. Dava aulas sentado em cima da mesa. Um ato revolucionário.
Era muito bom ter professores ativistas e revolucionários me educando. Era libertador.
Não tem como fugir. O professor legal é o de esquerda, como o de biologia precisa ser divertido, darwinista e doidão, para manter sua turma ligada e ajudar a traçar um organograma genético da nossa família. A base do seu pensamento tem de ser a teoria da evolução. Ou vai dizer que Adão e Eva nos fizeram?
O de química precisa encontrar referências nos elementos que temos em casa, provar que nossa cozinha é a extensão do seu laboratório, sugerir fazer dos temperos, experiências.
O professor de física precisa explicar Newton e Einstein, o chuveiro elétrico e a teoria da relatividade e gravitacional, calcular nossas viagens de carro, trem e foguete, mostrar a insignificância humana diante do colossal universo, mostrar imagens do Hubble, buracos negros, supernovas, a relação energia e massa, o tempo curvo.
Nosso professor de física tem que ser fã de Jornadas nas Estrelas. Precisa indicar como autores obrigatório Arthur Clarke, Philip Dick, George Orwell. E dar os primeiros axiomas da mecânica quântica.
O professor de filosofia precisa ensinar Platão, Sócrates e Aristóteles, ao estilo socrático, caminhando até o pátio, instalando-se debaixo de uma árvore, sem deixar de passar pela poesia de Heráclito, a teoria de tudo de Parmênides, a dialética de Zenão. Pula para Hegel e Kant, atravessa o niilismo de Nietzsche e chega na vida sem sentido dos existencialistas. Deixa Marx e Engels para o professor de história barbudo, de sandália, desleixado e apaixonante.
O professor de português precisa ser um poeta delirante, louco, que declama em grego e latim, Rimbaud e Joyce, Shakespeare e Cummings, que procura transmitir a emoção das palavras, o jogo do inconsciente com a leitura, a busca pela razão de ser, os conflitos humanos, que fala de alegria e dor, de morte e prazer, de beleza e sombra, de invenção-fingimento.
O de geografia precisa falar de rios, penínsulas, lagos, mares, oceanos, polos, degelo, picos, trópicos, aquecimento, Equador, florestas, chuvas, tornados, furacões, terremotos, vulcões, ilhas, continentes, mas também de terras indígenas, garimpo ilegal, posseiros, imigração, geopolítica, fronteiras desenhadas pelos colonialistas, diferenças entre xiitas e sunitas, mostrar rotas de transação de mercadorias e comerciais, guerra pelo ouro, pelo diamante, pelo petróleo, seca, fome, campos férteis, Civilização.
A missão deles é criar reflexões, comparações, provar contradições. Provocar. Espalhar as cartas de diferentes naipes ideológicos. Buscar pontos de vista.
O paradoxo do movimento Escola sem Partido está na justificativa e seu programa: “Diante dessa realidade – conhecida por experiência direta de todos os que passaram pelo sistema de ensino nos últimos 20 ou 30 anos –, entendemos que é necessário e urgente adotar medidas eficazes para prevenir a prática da doutrinação política e ideológica nas escolas, e a usurpação do direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.”
Mas como nasceriam as convicções dos pais que se criariam num mundo de escolas sem ideologia? E que doutrina defenderiam gerações futuras?
A escola não cria o filho, dá instrumentos. O papel dela é mostrar os pensamentos discordantes que existem entre nós. O argumento de escola sem ideologia é uma anomalia de Estado Nação.
Uma escola precisa acompanhar os avanços teóricos mundiais, o futuro, melhorar, o que deve ser reformulado. Um professor conservador proporia manter as coisas como estão. Não sairíamos nunca, então, das cavernas.
Texto de Marcelo Rubens Paiva publicado no Portal do Estadão
http://cultura.estadao.com.br/blogs/marcelo-rubens-paiva/como-assim-escola-sem-ideologia/

sexta-feira, 8 de julho de 2016

NOSSO MEDICAMENTO RETIDO NO AEROPORTO DE VIRACOPOS: UM DESABAFO

Meu filho mais novo, o Arthur, é cadeirante, tem um grave atraso do desenvolvimento em função de uma extensa lesão encefálica decorrente de um Acidente Vascular Intrauterino. Tem também Síndrome de West, uma síndrome caracterizada por epilepsia refratária de muito difícil controle. A pouco mais de um ano ele faz uso do canabidiol, que matamos no peito, importando dos EUA. Pois é, acreditem, o nosso último lote de canabidiol, que levou 48 horas para chegar dos EUA a São Paulo, está preso em São Paulo a mais de um mês. Se não fosse a ajuda de todos por aqui e o fato de termos encontrado pessoas queridas que se dispuseram a nos emprestar suas ampolas e um casal que nos vendeu três ampolas porque o filho não se adaptou à cannabis, estaríamos a muito sem o medicamento. Para o nosso filhote a vida com e sem a cannabis não é uma questão de viver com ou sem crises convulsivas, ele convulsiona mesmo usando o canabidiol em interação com outros medicamentos. Mas com a cannabis é possível contar quantas convulsões ele faz por dia, sem ela, são incontáveis. Nosso medicamento está pago e preso a mais de 30 dias em Viracopos por razões das mais estapafúrdias. Imagino que se fosse um creme antirrugas, para a esposa de um importante deputado federal, senador ou juiz, isso não aconteceria. Mas não, eu e meu marido somos apenas trabalhadores, que pagamos nossos impostos e precisamos aprender a conviver com a realidade da Síndrome de West. Fizemos tudo direitinho, inclusive já reencaminhamos para Brasília toda a documentação e está tudo certinho (e é preciso dizer que o pessoal da ANVISA em Brasília pega junto, ajuda, orienta), mas mesmo assim a medicação não é liberada e provavelmente em alguns dias teremos que pedir ajuda aos amigos nas redes sociais novamente, só não sabemos até quando conseguirão nos dar suporte, pois precisam da cannabis para seus filhos também. Faço um desabafo apenas, para que o sentimento de impotência frente a essa e tantas outras situações, não faça o meu peito explodir. Mas dá uma angústia quando vemos que as coisas não se resolvem não por incompetência, mas por falta boa vontade e empatia!!

terça-feira, 5 de julho de 2016