“Feitiço do tempo” é um daqueles clássicos filmes
da sessão da tarde. A história se passa na cidade de Punxsutawney, na
Pensilvânia, onde anualmente acontece a festa do Dia da Marmota. Na história,
um presunçoso e arrogante meteorologista da TV é escalado para a cobertura da
tradicional festa. Durante a cobertura do evento ele se vê preso em uma armadilha
do tempo que o faz reviver o mesmo dia infinitas vezes. Acontece que apenas ele
sabe que está preso num loop temporal, os demais personagens repetem os dias normalmente,
sem memória do dia anterior. Embora no começo da história ele aproveite para
agir de forma irresponsável, acaba ficando cansado em acordar todos os dias, na
mesma hora, ao som da mesma canção e viver os mesmos acontecimentos. Preso a
uma situação onde o fim é incerto e independe de sua vontade, o personagem decide
aproveitar a oportunidade para melhorar enquanto pessoa.
Muitos dizem que 2020 foi um ano que não valeu ser
contado e que 2021 é apenas a segunda parte de 2020. Há quem diga que em 2020,
em decorrência da pandemia da COVID-19, ficamos presos, fomos amordaçados, os
dias foram enfadonhos, as crianças não aprenderam nada, os jovens perderam sua
juventude e os adultos foram aprisionados. E que, 2021 será ainda pior. Se,
neste momento, situação está pior é porque não aprendemos a lição de 2020.
No ano que passou precisamos nos adequar a uma nova
realidade. Poucos, porém, se lançaram pra valer nessa aventura. Muitos ficaram
reclamando que precisavam usar máscara, outros muitos negaram-se (e ainda
negam-se) a usá-la. Poucos abriram mão de viagens de férias e feriados, o
resultado já era previsto e foi anunciado. Vivemos um caos sanitário, as
reclamações continuam, assim como a falta de ações práticas, individuais e
coletivas.
Vivemos há um ano, presos a um “feitiço do tempo” provocado
por um bicho bem menos interessante que uma marmota. O coronavírus não anuncia
o inverno prolongado, mas que o inferno pode ser aqui. Ouvimos autoridades pedindo
para darmos a vida pelo bem da economia, para não usarmos máscara, não tomarmos
a vacina, usarmos remédios ineficazes para esse vírus (até porque medicamento algum
mata o vírus). Homens e mulheres, que se dizem de bem, espalham notícias
falsas, promovem aglomerações, plantam e alimentam o caos.
Não é o vírus que vai nos ensinar algo, mas o
desejo de aprender com isso tudo. No momento que escrevo este texto já foram
mais de 270 mil mortes notificadas em território nacional, apenas em função do
coronavírus. Com os hospitais lotados, pessoas acometidas por outras doenças
graves poderão morrer por falta de assistência. E tem gente que ainda não
acredita na gravidade da situação, que reclama por ter que usar máscara para
cobrir o rosto e não poder ir ao mercado no domingo. Quando vamos aprender que
a vida é nosso bem maior?!!