quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

EM BOA COMPANHIA



Certa vez uma aluna, na época com uns vinte e poucos anos de idade, me disse que nunca havia sentado sozinha numa cafeteria ou num restaurante. Durante a conversa ela contou que aquelas eram experiências que ela adoraria viver, mas que não tinha coragem. Não era uma menina tímida ou que mostrasse dificuldade para estabelecer uma boa conversa. Para ela, no entanto, era necessário coragem para desfrutar da própria companhia em um lugar público.
Eu amo sentar na companhia de um bom livro e uma xícara de café, numa cafeteria acolhedora. Também adoro visitar novos lugares na minha própria companhia. Não gosto de excursões, situações em que um monte de gente invade um espaço com hora marcada para entrar e sair. Quando visito uma exposição, um museu, uma feira, gosto de tempo, do meu tempo de observar, de cruzar olhares, de encontrar pessoas, de conversar com estranhos. Há quem diga que é culpa do centauro que habita em mim, por causa do meu signo. Se é por conta da constelação de sagitário ou da criação terrena eu não sei. O que sei é que adoro sair e me levar para passear.  Vez ou outra também gosto de ficar sozinha, quietinha no meu canto.
Desfrutar da quietude da própria companhia é, por distintas razões, algo difícil para muitas pessoas. Há quem não tolere o silêncio. Muita gente entra num elevador ou senta no banco do ônibus e precisa logo puxar um assunto, não suporta o silêncio. Parece que precisa dizer ao outro: - olha, eu estou aqui viu?!!
Você já experimentou sentar no banco de uma praça para ler um livro ou uma revista? Quem sabe ouvir uma canção em seus fones de ouvido? Ficar conectado em rede social não vale, ali estamos em companhia de outras pessoas. Falo da experiência de estar consigo, talvez na companhia dos personagens de um livro, ou apenas admirando as flores, os pássaros, ou as árvores da rua.
Essa experiência de estar bem na própria companhia, de desejar, por vezes, isolar-se propositalmente, sem abrir mão de estar com outros quando assim desejar, chama-se solitude. A solitude é uma experiência bastante diferente da solidão.
Como diz a música do Alceu Valença, “A solidão é fera a solidão devora/ É amiga das horas prima irmã do tempo/ E faz nossos relógios caminharem lentos/ Causando um descompasso no meu coração”. A solitude, por sua vez, é a capacidade de estar feliz na própria companhia. A solitude não nos devora, não desacelera o ritmo das horas marcadas pelo relógio, também não faz descompassar o coração. A solitude nos conecta, em maior ou menor medida, a nós mesmos.
A solidão é imposta, a solitude é escolha. A solidão submete, a solitude ensina. Na solidão as horas parecem não passar, na solitude podemos desacelerar, mas esta é uma escolha pessoal. O poeta João Doederlein diz que solitude é “aquele momento do banho no qual você bate um papo com si mesmo e chega a conclusões que nunca seriam alcançadas numa mesa de bar”. Que tal aproveitar o final de semana para partilhar alguns minutinhos com si mesmo?!!

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