quinta-feira, 1 de novembro de 2018

DAS URGÊNCIAS DESTE MOMENTO (CRÔNICA DA SEMANA)



Na semana em que celebramos o Dia Nacional do Livro (29 de outubro), vivemos também o fim de um período eleitoral difícil no Brasil, amparado por uma overdose de imagens e mensagens lançadas freneticamente na TV, jornais e redes sociais. Eram tantas que embaralhavam os olhos e o pensamento. Eram tantas que cansavam, e no cansaço de tanta informação, muitos se prendiam apenas ao título. Não dava tempo para ler uma reportagem ou entrevista, ou checar a fonte da informação, pois logo éramos bombardeados com outras tantas informações. E cegos de tanto ver e pouco ler, muitos compartilhavam a informação que não informava, a informação mentirosa.
É urgente resgatarmos a curiosidade, que nos faz ir atrás das informações. É urgente resgatarmos (ou adquirirmos) a habilidade de ler o texto e interpretar seu contexto. Mas, para que isso aconteça, é imprescindível conhecermos a história, para que possamos compreender o momento histórico de cada narrativa. Somos quem somos porque nos sabemos. E nos sabemos porque temos memórias que nos constituem, lembranças de momentos vividos e outros tantos narrados por nossos pais, avós, familiares. Sem nossas memórias deixamos de ser, uma vez que já não nos sabemos.
Vivemos um tempo estranho, de ataque à literatura, especialmente a literatura infantil. Livros infantis, alguns escritos e lidos a mais de 30 anos, são vistos hoje como uma ameaça. O que estamos fazendo com nossas crianças? Estamos roubando delas toda forma de pensamento crítico, não queremos que leiam, que discutam, que contestem, que sejam. Que ingenuidade pensarmos que o mundo será melhor assim, com seres obedientes e alienados. Não estamos a medir o risco de uma geração que já nasce cercada de tecnologia e não desenvolve capacidade de questionar o que está em frente a seus olhos. Crianças questionadoras dão trabalho para pais, professores e quem mais estiver por perto. Mas quem escolhe ter filhos, ou trabalhar com crianças, deveria saber que crianças dão trabalho.
E não venha reclamar que os adolescentes não saem da frente do computador. Que alternativa lhes oferecem os adultos? Convidam para um passeio, para ir ao cinema, para ler uma história juntos, para jogar um jogo, ir ao teatro? Os adultos são parceiros? Os adultos largam seus afazeres para convidá-los para partilhar o tempo? Convidavam para esta partilha quando ainda eram pequenos?
 Vejo pouca perspectiva para um país que lê pouco, que não interpreta o que lê, que censura seus artistas, que recrimina seus professores, um país onde a sociedade está mais ocupada em vociferar do que poetar, um país onde pais se preocupam mais em domesticar do que acarinhar, dialogar, estar junto. Mas acredito num país de pessoas que se dão as mãos para partilhar o tempo, que sentam em roda para ler histórias, cantar, conversar.  


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