quinta-feira, 29 de novembro de 2018

QUERO GENTE LUZ PARA ILUMINAR MEU CAMINHO (CRÔNICA DE ANIVERSÁRIO)


Aniversário não é final de ciclo, fim de ciclo é véspera. Aniversário é dia de novo ciclo, de recomeço, de reflexão, de olhar pra trás com olhar crítico e ao mesmo tempo amoroso, para que se possa seguir o caminho honrando o passado. O caminho deste último ano não foi fácil, foram perdas irreparáveis, momentos difíceis, que exigiram e seguem a exigir de mim um novo modo de caminhar. Nunca tive crise de identidade em idade alguma, nem nos 30, nem nos 40 e não vai ser nos 47 que vou ter, apesar do nó que o coração carrega nesse novo início de caminhada. Os outros 46 iniciaram-se, sem dúvida, com mais leveza, foi mais fácil olhar pra frente com olhar carregado de esperança.
Neste primeiro passo, nessas primeiras palavras que escrevo no primeiro dia dos 47 (e não poderia iniciar de outra forma que não escrevendo – e também preparando uma vitamina para o filho -), preciso reinventar esperança no olhar para reconstruir afetos de uma casa ¼ mais vazia e de um país um tanto mais devastado em sentimentos e afetos. Não sei dizer o que dói mais, pois as duas perdas, a do filho e a da crença de éramos seres humanos melhores do que temos nos mostrado, doem tanto que não há como medir. Uma é a dor pelo filho que se foi, a outra é a dor pelo futuro do filho que segue a caminhada ao meu lado, uma caminhada de tantas incertezas (só incertezas), inundada por palavras de ódio que reverberam pelos muitos cantos do país, a nutrir o desamor, o preconceito e a intolerância.
Mas sempre, nestes momentos de tristeza, vejo apenas duas possibilidades, dois caminhos que se apresentam em sentido vertical. Ou me jogo no poço, ou sigo aqui em cima, onde ainda posso vislumbrar caminhos horizontais. Já sei como é lá embaixo e também sei o tanto que é difícil saltar pra fora. Então fico aqui, porque sei que aqui em cima, se tem gente que apaga a vela para escurecer o caminho (seu e dos outros), há tantos outros a ser luz para iluminar o caminho (seu e dos outros). Eu quero ser luz e também me deixar cercar de seres luz.
Não sei os caminhos que se apresentarão daqui pra frente, mas sei que quero luz para poder trilhá-los. Sei que a saudade do filho só fará crescer, mas quero alimentá-la de boas memórias e não de tristezas. Sei que a vida do filho que segue ao meu lado me precisará forte, âncora e luz. Não sei pra onde vamos, nem pra onde vou, mas sei que quero estar cercada de gente luz, que saiba o significado das palavras amor, amizade, laços e também namastê, shalom, ubuntu e ho'oponopono.

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