domingo, 3 de setembro de 2017

UM POUCO DE FICÇÃO


Semana passada celebramos a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla. Por esta razão, ao iniciar o texto para esta coluna, comecei escrevendo sobre nossos cinco sentidos – aqueles sobre os quais aprendemos nas aulas de ciências e que usamos todos os dias de modo tão automático que só damos valor quando um deles falha. Depois mudei o foco e a escrita tomou outro rumo.
Na mesma semana eu recebi um desafio de escrita criativa. Deveria escrever um diálogo, a fim de desenvolver as habilidades estudadas durante a semana. Provavelmente por estar tomada pela temática dos cinco sentidos, nasceu o diálogo “Cegueira”. Hoje convido você a passear comigo por um universo um pouco mais ficcional, porque podemos refletir nosso cotidiano de muitas maneiras, a ficção é uma delas. 
CEGUEIRA
Eles se encontravam todas as quintas-feiras à tarde. Carlos chegava sempre animado. Todas as semanas Carolina o recebia na sala de espera com um sorriso, embora as palavras do homem deixassem a moça intrigada. Naquela tarde, não foi diferente.
- Boa tarde, seu cabelo está lindo hoje! - disse Carlos sorrindo, ao cumprimentar a moça.
- Boa tarde! – respondeu Carolina desconfiada.
- As azaleias em frente à sua clínica ficam lindas num dia ensolarado como hoje, você não acha?
- Acho sim. Mas... Seu Carlos, tem algo me inquietando desde o começo de nossos atendimentos. Posso lhe fazer uma pergunta um pouco indiscreta?
- Pode sim, querida. Não sei é se vou poder lhe responder.
- O senhor é cego de verdade?
- Sou sim.
- Tem certeza? Não enxerga nadinha?
- Certeza absoluta!
- Mas seu Carlos, sempre que o senhor chega, me cumprimenta elogiando meus olhos, minha roupa, ou meu cabelo. Eu fico um pouco confusa!!
- Querida, não se preocupe com isso. A vida seria muito chata se eu enxergasse apenas com os olhos e me cegasse para toda beleza que está à minha volta.
- Está vendo, o senhor parece estar sempre feliz?!
- E por que eu não estaria feliz?
- Porque deve ser muito difícil não poder ver as cores, as pessoas, assistir um filme...
- Mas eu posso fazer tudo isso, só que de modos diferentes do seu. 

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