domingo, 24 de setembro de 2017

PEQUENA CONTRIBUIÇÃO PARA PENSAR O PL 7.232/ 2017

Para aqueles que ainda não conhecem a questão, tramita em Brasília o Projeto de Lei nº 7.232, de 2017, de autoria da Deputada Erika Kokay, que propõe a regulamentação da profissão de Contador de Histórias. 
A ideia original do projeto, de valorização da profissão do Contador de Histórias, é boa. A grande questão é a regulamentação, principalmente quando em seu artigo 2º o texto propõe que para o exercício da profissão de Contador de Histórias “será exigido curso de formação com fundamentação teórico-prática para o uso da literatura e das técnicas de Contação de Histórias como instrumentos didático-pedagógicos no processo de aprendizagem”.
O artigo 2º se contrapõe ao Parágrafo Único do mesmo PL (que o antecede) e que diz que “são considerados Contadores de Histórias os profissionais cuja construção do saber seja desenvolvida no cotidiano de suas comunidades, em que a oralidade exerça papel fundamental na preservação e transmissão do saber e das manifestações da cultura popular”.
Observe que o Parágrafo Único valoriza o fazer de todos os narradores, respeitando a trajetória de cada um. O artigo 2º, no entanto, cria amarras e por isso provocou uma grande mobilização e grupos de discussão Brasil a fora.
Acontece que, apesar das muitas considerações, o grupo que encabeça o PL mostra-se na defensiva e as alfinetadas, que foram se multiplicando (de todos os lados), vão se tornando espetadas com grossas agulhas de tricô.
Semana passada foi dito que apenas cinco estados estariam contra o PL. Não é verdade, o que acontece é que nos estados os grupos não têm conseguido se mobilizar tão rapidamente, uma vez que quase todos fomos pegos de surpresa. Sem falar que reuniões presenciais para se discutir o texto, tornam-se onerosas para muitos contadores de histórias que precisam deslocar-se de suas cidades até às capitais. Há ainda outras questões, pois nem todos concordam em escrever um documento representativo de um coletivo maior, porque não querem falar em nome de todos. Além desta, outras situações vão se colocando, como os posicionamentos político partidários, o fato de que uns vivem apenas da narração, outros não. E por aí vai...
O fato é que deveríamos ser capazes de afirmar quem somos, todos nós, profissionais da palavra, da narrativa, que nos constituímos no cotidiano narrativo e nos aperfeiçoamos, com relação aos cuidados éticos e estéticos, através de estudos e pesquisas contínuas.
Ao travarmos novos embates, perdemos força. E, neste momento, tão frágil, para nós e para o país, não podemos perder a força, é momento de nos unirmos.
Os movimentos que surgem para pedir que o projeto seja vetado, só surgiram pela falta de escuta e de abertura ao diálogo. Não havendo abertura, nem tempo hábil, o que restou foi pedir o veto.
É urgente que todos conheçam o projeto e se manifestem, que participem dos grupos de discussão e peçam ações efetivas que possam expressar o desejo da maioria. 

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