sexta-feira, 8 de setembro de 2017

SOZINHEZ

Final de semana passado fui ao cinema sozinha, assistir ao maravilhoso “O filme da minha vida”. O filme, com brilhante roteiro e direção do Selton Mello, é baseado na história “Um pai de cinema”, do chileno Antonio Skármeta e foi todo filmado na serra gaúcha. A história é linda e envolvente, a fotografia é impecável, a trilha sonora é fantástica e as atuações arrebatadoras. Muitos vivas ao bom cinema brasileiro!!
Pouco antes de sair de casa, quando falei ao meu filho mais velho, hoje com 13 anos, que iria ao cinema, ele me perguntou com quem. Quando disse que iria sozinha ele ficou um tanto espantado e sem entender como alguém vai ao cinema sozinho.
Adolescente é uma espécie que, de um modo geral, gosta de andar em grupo e talvez por isso não veja sentido em fazer um programa sozinho. Acho que quando era adolescente essa ideia também me era estranha. Mas faz um bom tempo que aprendi a gostar da minha companhia para sentar numa cafeteria com um bom livro, para visitar uma exposição de arte sem ninguém para me apressar, para ouvir uma música no carro e poder cantar livremente.
Faz uns vinte e poucos anos que ouvi pela primeira vez a palavra “sozinhez”. Essa palavra, que ainda não está no dicionário, é - segundo a psicóloga Inajara Paiva - “uma palavra criada para definir [aquela] solidão do bem”. Essa expressão “foi utilizada para descrever o estado de estar profundamente a sós consigo, revendo conceitos, crescendo, questionando e aprimorando a essência do caráter e do temperamento, consequentemente, fortalecendo [nossa] personalidade, que carece de melhorias a todo instante”.
Buscando no dicionário encontramos significados para termos como sozinho e solidão, que remetem, em alguns casos, a abandono e desamparo. Sozinhez, ao contrário, tem muito mais a ver com solidez (algo que não é vazio, nem oco) do que com solidão.
O estado de sozinhez, de acordo com Inajara Paiva, é “aquele período em que se cria, se avalia com o cérebro, coração e estômago, se relaxa, se escuta a própria voz, se reconhece ou se estranha, se distingue o que é necessário do que é supérfluo, se constata o que é problema de fato, o que é solucionável ou irremediável, o que pede imediatismo e o que dá para esperar. É quando se mergulha sem interrupções numa leitura apaixonante, se ouve uma música embriagante, muitas vezes revendo coisas e emoções que andavam até esquecidas e que acalmam e em que se busca, sobretudo, o silêncio das palavras”.
O que os anos vão aos poucos nos ensinando, quando nos permitimos aprender, é que é muito bom estar entre amigos, mas saber estar em nossa própria companhia é fundamental!! 

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