Diz o poeta, que memória é onde a gente guarda quem
a gente ama. O cientista, por sua vez, diz que somos as memórias que temos.
Quem amamos, por certo, reside em nossas memórias. Quem desprezamos também.
Sabemos quem somos e onde estamos, porque guardamos muitos registros. Somos
filhos, netos, bisnetos de pessoas concretas. As falas, posicionamentos,
escolhas e as histórias de nossos familiares, amigos, colegas de escola, ou de
trabalho, se entrelaçam com nossas memórias, fazem parte delas, apontam os
rumos para onde queremos ir e sinaliza os caminhos que devemos, ou queremos,
evitar.
Nossas memórias assinalam quem somos no mundo.
Quando nos apresentamos para uma pessoa, ou para um grupo de pessoas, dizemos
nosso nome, de onde somos, onde moramos, nossas experiências profissionais,
acadêmicas ou pessoais. Se somos capazes de narrar todas essas informações é
porque às temos registradas em nossas lembranças.
Uma pessoa acometida pela Doença de Alzheimer vai,
aos poucos, perdendo suas memórias, podendo chegar ao ponto de não ser mais
capaz de localizar-se no mundo, de reconhecer seus amigos e familiares, ou até
mesmo, de reconhecer-se. Este fato afirma a fala do cientista. Uma criança
pequena, por sua vez, também não é capaz de narrar sobre quem é. A construção
dessa narrativa acontecerá a partir das muitas vezes que os adultos que cuidam
dela precisarão repetir seu nome, seus nomes, nominando e dando significado a
tudo e a todos que a cercam. Aqui o poeta e a poesia do viver se fazem
presentes.
Para que a memória exista é preciso que os fatos,
as coisas, as pessoas, sejam nominados e rememorados muitas vezes. É preciso
que ganhem sentido, que sejam sentidos. Não guardamos na memória todas as
experiências vividas, nem todas as pessoas conhecidas, mas guardamos tudo
aquilo e todos aqueles que fazem e dão sentido à nossa existência.
Esquecer quem somos no mundo não é saudável, é uma
condição de quem não soube aprender ou está doente. Deixar apagar a memória do
tempo vivido não é saudável, é coisa de quem não quer aprender ou está doente. Que
toda a história já vivida sustente nossas memórias. Que cada vida ceifada por
descuido, descaso ou negligência, possa ser lembrada não como um número, mas
como um pedacinho da nossa memória coletiva. Que todo o tempo e toda
experiência partilhados possa nos fortalecer e nos qualificar enquanto seres
mais humanos.
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