sábado, 19 de julho de 2014

O CELULAR NA SALA DE AULA E A CRISE DE AUTORIDADE NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Era uma vez um menino (sem educação e sem limite), que representado pela sua mãe (que não lhe ensinou o significado da palavra respeito), decidiu acionar judicialmente seu professor (Odilon Alves Oliveira Neto), requerendo reparação por danos morais porque, pasmem, este "ousou" retirar um aparelho de telefone celular das mãos do menino, que ouvia música com fones de ouvido durante a aula.
Segundo os autos do processo, a ação proposta visava a reparar o “sentimento de impotência, revolta, além de um enorme desgaste físico e emocional” do autor. Felizmente, o juiz Eliezer Siqueira de Sousa Junior, da 1ª Vara Cível e Criminal de Tobias Barreto, no interior do Sergipe, julgou improcedente o pedido de indenização.
Desgaste físico e emocional? Fico me perguntando se o aluno se pôs em confronto físico com o professor em luta pelo celular ou o desgaste físico era por estar na sala de aula precisando ficar sentado na cadeira, escutando uma musiquinha...
Que mãe é essa?!! Que pais são esses dos nossos tempos, que delegam a educação de seus filhos aos professores, mas não lhes dão a mínima autonomia para educa-los?! Sem falar que educação, limites e respeito é algo que os alunos já deveriam ter adquirido quando chegam à escola (mas isso é outra conversa...).
Se algo semelhante acontecesse nos meus tempos de escola, além da punição da escola, meus pais se encarregariam, com certeza, de me dar um belo castigo. Semanas sem bicicleta, provavelmente!!
Mas o caso deste menino, que ilustra tantas situações já vivenciadas por mim em diferentes contextos escolares, felizmente foi parar nas mãos de um juiz sensato, que não apenas julgou improcedente a ação, como deu uma bela lição de bom senso, não apenas para o autor e sua mãe sem noção, mas para todos pais, professores e alunos deste país. Seguem alguns trechos da sentença (que vale a pena ser lida):

"Este é o ponto! O modelo educacional brasileiro de outrora foi abandonado e, até agora, nenhum o sucedeu. É bem verdade que a quantidade de dinheiro aumentou, mas o investimento (não só financeiro) é péssimo.
Ainda temos uma maioria esmagadora de centros educacionais no Brasil que remontam ao século XIX, insalubres, massacrantes e nada atrativos, conforme várias matérias jornalísticas despejam periodicamente nos meios de comunicação.
Quem sofre com isso? O país como todo, é verdade. Os alunos e pais de alunos, diretamente. Mas fico a pensar, também, naquele que nasce vocacionado para ensinar, que se prepara anos a fio para isso, e, quando chega o grande momento, depara-se com uma plateia desinteressada, ávida pelos últimos capítulos da novela ou pela fofoca da semana, menos com a regência verbal ou a equação de segundo grau, até porque não possui nenhuma ferramenta “atrativa” para combater a contracultura das massas.
A concorrência é desproporcional, mas houve uma época em que ser pego em sala de aula fazendo palavras-cruzadas ou trocando bilhetes com outros discentes era motivo para, no mínimo, fazer corar a face do aluno surpreendido.
O professor era autoridade de fato e de direito na sala de aula. Era respeitado como tal, pois a sociedade depositava sobre seus ombros a expectativa de um futuro melhor para os mais mancebos. Possuía licença de cátedra, liberdade para escolher o método que houvesse por bem, para melhor alçar o espírito dos pupilos. Ensinar era um sacerdócio e uma recompensa. Hoje, parece um carma".


" (...) Vivemos dias de verdadeira “Crise de Autoridade” na educação brasileira. Crise esta causada pelo sucateamento retromencionado dos estamentos educacionais, onde a figura do Professor é relegada a um papel pouco expressivo na sociedade. Hoje, o professor é tido como uma pessoa que estudou muito e não chegou a lugar nenhum, quando não se diz coisa pior".
“(…) julgar procedente esta demanda é desferir uma bofetada na reserva moral e educacional deste país, privilegiando a alienação e a contra educação, as novelas, os “realitys shows”, a ostentação, o “bullying” intelectivo, o ócio improdutivo, enfim, toda a massa intelectivamente improdutiva que vem assolando os lares do país, fazendo às vezes de educadores, ensinando falsos valores e implodindo a educação brasileira.
“No país que virou as costas para a Educação e que faz apologia ao hedonismo inconsequente, através de tantos expedientes alienantes, reverencio o verdadeiro herói nacional, que enfrenta todas as intempéries para exercer seu “múnus” com altivez de caráter e senso sacerdotal: o Professor.
O que vai além das palavras do Juiz Eliezer é que nem sempre a concorrência é desleal, nem sempre a situação está relacionada à falta de recursos tecnológicos ou metodologias que tornem a aula mais dinâmica e interessante. Nas escolas particulares, assim como nas Universidades, nem sempre este é o problema (nem mesmo em muitas escolas públicas, que professores maravilhosos se desdobram em metodologias bacanas). A questão é anterior a esta, a questão é que, como bem coloca o juiz, vivemos uma crise de autoridade neste país.

Nenhum comentário:

Postar um comentário