Somos um país de poucos leitores e carente de leitura. Falo
de leitura mesmo, aquela que lendo nos divertimos, aprendemos, crescemos.
Aquela leitura que nos faz compartilhar afetos, estar junto com o outro para
trocar ideias e histórias.
Estimular a leitura não é uma tarefa fácil. Obrigar o filho
a ler o livro da escola não é estimular a leitura. Obrigar as crianças a buscar
um livro na biblioteca, sem orientá-las nas leituras apropriadas para sua
potencialidade leitora, não é estimular a leitura. Estimular a leitura é
brincar com as palavras, é ler junto, é inventar histórias, é fazer deste um
momento divertido, mesmo que desafiador.
Gosto de ouvir (com os olhos) o Caio Riter (2009, p.30), quando
diz (escreve) que “passo importante para a formação de um leitor é ouvir
histórias. Se possível, desde muito, muito cedo. Histórias contadas vão
entrando na gente feito carinho, feito seiva em árvore que precisa crescer,
desenvolver-se, a fim de dar flores, frutos, sombra. Leitores são árvores
frutíferas. Familiares [e educadores] contadores de histórias são seiva que
alimentam, que despertam o broto naquelas sementes carentes de tudo, que somos
nós quando crianças”.
É interessante observar
como num mundo tão cheio de tecnologias, onde muitas relações se constroem e se
sustentam no espaço virtual, onde o tempo parece correr num ritmo cada vez mais
intenso e novas urgências surgem (ou são inventadas) sucessivamente, a narração
oral vem sendo cada vez mais valorizada.
Há muitas razões para
justificar a valorização das narrativas orais nos dias de hoje, particularmente
gosto de pensar que uma das causas reside no fato de que a arte de contar
histórias é também a arte do encontro. Celso Sisto (2010, p.83) diz que “contar
histórias aproxima, cria afeto, instaura o diálogo”. Num mundo tão virtual e
repleto de tecnologias, parece que o momento da narrativa oral é um momento de
encontro não só com a narrativa, mas também com o outro (narrador e ouvinte) em
tempo real, num espaço real.
Segundo Regina Machado (2004,
p.33), “a atividade de contar histórias constitui-se numa experiência de
relacionamento humano que tem uma qualidade única, insubstituível”. O ato de
contar histórias, assim como brincar com palavras, em casa ou na escola,
oportuniza o encontro em tempo real, entre a criança e a palavra, a criança e o
imaginário, a criança e o adulto, a criança e seus pares. Creio que esta já é
razão suficiente para sustentar a importância de contar histórias para
crianças. Mas ouvir histórias vai além, desperta novas curiosidades, novos
questionamentos, a disposição para a crítica, amplia o vocabulário e o desejo
pela leitura.
Por esta razão é que o
Projeto “Conversa de Professor”, da Fundação Ecarta, tem se empenhado em levar
essa discussão para muitos professores, pois como afirma Caio Riter (2009,
p.16), “brincar com as palavras não é luta vã. Ao contrário, é condição
essencial para fazer brotar em corações ainda ternos, ainda fechados aos preconceitos,
o amor pela leitura, o desejo de descoberta”.
(Texto publicado no Jornal Extra Classe, do Sinpro RS, junho de 2014)
Bah guria você é maravilhosa! Amei seu texto,beijos!
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