Certo
dia um homem sentou-se na praça de sua cidade para contar histórias para quem
quisesse ouvir, porque pensava que suas histórias pudessem transformar o mundo.
Muitos anos se passaram e o homem continuava a contar histórias, lindas
histórias, muitas vezes para uma plateia inexistente. Hoje o homem sabe que
suas histórias podem não transformar o mundo, mas são elas que permitem que o
mundo não mude a sua essência. Essa história, que amo narrar, chama-se “O homem
que contava histórias”, e está num livro de mesmo nome, de autoria de Rosane
Pamplona.
Acredito
de fato que palavras são transformadoras. Cada um nós sabe bem o poder
transformador (para o bem e para o mal) de um elogio e de um xingamento. E num
período onde as tantas manifestações presentes nas mídias e redes sociais são
de agressões verbais, é uma delícia participar de uma mobilização mundial que
propõe uma ação social verdadeiramente pacífica e potencialmente
transformadora. Essa ação se chama “Histórias
para mudar o mundo".
Dia
21 de junho, para muitas pessoas mundo a fora, é dia de acreditar que outro mundo
é possível. É dia de acreditar que nossas ações e nossas palavras podem mudar o
mundo. Não, não é dia de jogar o “Jogo do contente”, ensinado à personagem
Poliana, no livro de Eleanor Porter (particularmente nem gosto desse jogo), é
sim dia de ação verbal e transformadora.
“Histórias para mudar o mundo" é um
projeto voluntário que nasceu no verão de 2010, organizado pela Rede
Internacional de Contadores de Histórias/ International Storytelling Network/
Red Internacional Cuentacuentos (RIC), cujo objetivo principal é o desejo de
intervir em nome de todos aqueles que sofrem qualquer tipo de discriminação no
mundo. Assim sendo, todos os anos, no dia 21 de junho, a RIC promove a
mobilização "Histórias para cambiar el mundo".
A proposta é convidar, chamar as pessoas que queiram participar desta celebração.
Desta forma a RIC, rede da qual participo, convida todas as pessoas, narradores
espontâneos, bibliotecários, professores, pais, avós, jovens, enfim, todos
aqueles que queiram participar, para que narrar contos, poesias, causos, em
diferentes locais.
Toda ação é válida, mesmo que pequena. Você pode contar histórias numa roda de
amigos, numa sala de aula, num hospital, numa praça, numa biblioteca, num
centro cultural. Afinal, todo lugar é lugar para uma boa história.
Com
estas ações estaremos multiplicando o efeito da celebração, procurando, por
meio das histórias, criar uma nova realidade. Participar deste momento é nossa
contribuição para a construção de um mundo melhor, mais sábio e sereno. A ferramenta
será a palavra, mas não qualquer palavra. Não os xingamentos, não as agressões,
mas a palavra poesia, a palavra conto, a palavra encontro.
Segundo
Regina Machado (2004), “a atividade de contar histórias constitui-se numa
experiência de relacionamento humano que tem uma qualidade única,
insubstituível”. Nesta perspectiva, o ato de contar histórias é capaz de
promover o encontro do humano com o humano (seus pares e sua essência). Para
que esse encontro ocorra de modo significativo é preciso que a pessoa que narra
e o seu parceiro de afetos (a pessoa que ouve) estejam em relação, numa
dinâmica do afeto que permite à história abraçar a todos.
Vivemos num mundo
carente de bons afetos e a arte de contar histórias, que pode ser traduzida
também como a arte de estar com o outro no afeto, nos amplia possibilidades de
sermos seres humanos melhores. Neste dia 21 de junho, una-se a essa rede de
afetos e palavras e conte uma história. Lembre-se, as histórias podem mudar o
mundo!!
Valéria
Neves Kroeff Mayer (Léla Mayer)
Professora Universitária e Contadora de
Histórias
Texto de Opinião publicado no Jornal Gazeta do Sul em 21/06/2014
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