sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

SEXTOU

 

Verbo é a classe de palavras que, do ponto de vista semântico, têm significado de ação, estado, mudança de estado ou fenômeno da natureza, que varia em relação ao tempo. O que a sexta-feira tem de tão especial, para se ter criado um verbo só para esse dia da semana? Desde quando essa expressão foi inventada, a conotação que ela carrega é de que este é o dia que podemos enfim, viver.

Nessa lógica, a vida funciona assim: de segunda-feira pela manhã à sexta-feira à tardinha, carregamos o pesado fardo do trabalho e do estudo. E, no final da sexta-feira, atravessamos o portal da liberdade, para respirar e viver por dois dias, antes que novo ciclo de tortura se inicie.

Pra quem vale essa lógica? Certamente não para os profissionais muitos que trabalham aos finais de semana. Também não para as mulheres com tripla jornada de trabalho, que aproveitam os finais de semana para deixar a casa em ordem, numa rotinha intensa de lava, limpa, organiza, cozinha. Ou, para os estudantes que dedicam seus finais de semana para colocar seus estudos em dia, ou ampliar seu aprendizado.

É irônico que essa expressão, inventada para marcar o fim de um ciclo de trabalho, seja vazia de sentido para aqueles que quase nunca param de trabalhar. Como também é triste que a percepção que muitos tem de trabalho é de que este seja um fardo a ser carregado de segunda à sexta-feira.

É verdade que nem todos conseguem trabalhar naquilo que lhes dá prazer. Como também é verdade que muitos trabalhos exigem um esforço físico absurdo. E, geralmente são esses os trabalhadores que tem as condições de trabalho mais precárias, os que são pior remunerados e para quem o sextou, de fato, possa ser mais vazio de sentido.

A semana tem sete dias. Penso ser um desperdício deixar para sentir a vida em apenas dois. Afinal, viver, vivemos os sete. Mas, muitas pessoas esperam para colocar sentido de viver em apenas dois dias, por mais vazios de sentido que eles possam ser.

E se inventássemos o segundou, terçou, quartou e não empurrássemos para depois o desejo de sentir a vida? E se as sextas-feiras fossem apenas mais um dia para viver da melhor forma que podemos e conseguíssemos encontrar (ou colocar) no trabalho e nos afazeres cotidianos uma possibilidade de viver com mais prazer? Talvez assim, a vida fosse melhor vivida durante toda a semana. Essa possibilidade é aceitável para você? 


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