Os jovens, de um modo geral, apaixonam-se com mais
facilidade e maior frequência do que os adultos. Talvez porque os hormônios
estejam em ebulição, ou pela curiosidade aguçada da juventude, ou ainda, pelo
desejo de novas experiências e aventuras. Lembro que na minha juventude, os
adultos chamavam as paixões adolescentes de “paixonites”. Possivelmente, porque
às considerassem um sentimento agudo e intenso, que logo passava, sem maiores
riscos de “cronificar” e virar um amor de longo prazo.
Algumas “paixonites” da adolescência, no entanto, podem
cronificar, outras podem deixar marcas em nós, mas em sua maioria, são brisa. Quando
eu tinha uns doze anos de idade, sofri de uma “paixonite” que não cronificou,
mas deixou marcas profundas para o resto da vida. O causador dessas cicatrizes,
cinco anos mais velho que eu, gostava de boa música e bons livros. Carrego
comigo, até os dias de hoje, seu gosto musical e o desejo de encontrar na leitura,
fontes de inspiração.
Houve um livro em especial que, naquela época, ele
disse ser o seu preferido. Eu, como estava ardendo em febre pela paixonite,
quis imediatamente ler aquele livro, apenas para poder dizer a ele que eu o
havia lido. Uma reação comum às paixonites é que, quando estamos febris,
queremos impressionar o outro, chamar sua atenção de alguma forma. Como haviam
cinco anos de diferença entre nós – e cinco anos é um tempo muito longo quando
somos jovens – eu queria encontrar um modo de mostrar minha pretensa
maturidade.
Tentei ler o livro. Obviamente, como maturidade não
é algo que ganhamos pelo desejo, mas pelas experiências que precisam de tempo,
não consegui finalizar a leitura. Tive a incrível ideia de pedir para uma amiga,
que devorava um romance por noite, para ler a história e me contar o que havia
nela. Minha amiga, por ter os mesmos anos de experiência que eu, também não
conseguiu avançar na história. Não tive êxito em exibir minha pretensa
maturidade leitora ao jovem rapaz.
Anos depois, o livro seguia na minha estante. Aos
dezessete, peguei-o para ler novamente e o devorei numa sentada. A leitura
fluiu e a história transbordou para fora de suas páginas. Naquela época eu já
estava curada da febre, mas haviam as cicatrizes melódicas das canções do
Nelson Coelho de Castro. E agora, ficaria marcada também por aquela história. A
marca, porém, foi maior. Ficou daquela experiência a cicatriz da compreensão
leitora. Entendi, naquele momento, que não há livro que não possamos ler, há
livros que não agradam nosso paladar e outros que ainda não estão no ponto para
serem (co)l(h)idos. Livros são como paixões adolescentes, alguns viram grandes
amores, outros deixam marcas em nós e alguns serão nuvens passageiras, que o
vento vai levar.
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