Entre as tantas questões,
tomadas como cortinas de fumaça (bom lembrar que onde há fumaça, há fogo) nestes
tempos estranhos, ressurge a discussão sobre os estereótipos que marcam o
masculino e o feminino. Nem vou entrar na discussão de gênero, apenas dos
estereótipos que tem se imposto sobre, como diz certa música, ser menina
feminina e menino masculino. Mas o que significa ser menina feminina e menino
masculino? Esta é uma pergunta bem complicada de responder.
Alguns defendem que ser menina
é usar roupa rosa, laço no cabelo e brincar de casinha - e de modo algum, usar
roupa azul, boné e brincar com carrinhos. Ser menino, neste contexto, é usar roupa
azul, boné na cabeça e brincar com bola - e de modo algum, usar roupa colorida
(rosa, nem pensar) e brincar de casinha.
Há cerca de 60 ou 70 anos esse
modo de pensar era super contemporâneo. Mas, por mais que nosso saudosismo nos
faça querer voltar no tempo, não dá para retroceder em algumas coisas e outras
não. A bem da verdade, não é possível voltar no tempo, só é possível tentar impor
velhos costumes.
Hoje os meninos aprendem que
ser homem é diferente de ter filhos e posar de machão - e que ser pai significa
participar da educação e do cuidado com os filhos. As meninas aprendem que ser
mulher não é, necessariamente, ser mãe ou usar tailleur - e que ser mãe é também dividir as despesas da casa e com
os filhos. Poucas são as mulheres que ainda casam para sair da casa dos pais,
hoje elas trabalham. Poucos são os rapazes que usam postura de macho alfa para
conquistar as meninas, porque se antes era patético, hoje é démodé.
Sim, os tempos mudaram. E,
gostando ou não, andar na contramão é praticamente impossível, a não ser por
imposição, doutrinação dogmática, ou cabresteamento. Dizer que se respeitarmos
a singularidade de cada sujeito os meninos irão pensar que, tendo as meninas os
mesmos direitos – ou seja, se podem usar calças e bermudas, jogar basquete e futebol,
trabalhar fora de casa e ter opinião própria –, então podem levar porrada, é
perpetuar uma cultura machista e violenta.
Se vamos passar a tratar meninas como
princesas e meninos como príncipes, é preciso pensar que príncipes e princesas
serão estes. Porque, se ser príncipe significa ser como Edward, príncipe do
filme “Encantada”, um clássico da Disney, um cavalheiro melódico e
potencialmente perfeito para a princesa daquela história, que também passava os
dias a cantar e dançar - e que, por sinal, teve seu final feliz com um homem
nada encantado -, fico pensando quantos meninos irão querer ser parecidos com o
lindo Edward e nas dificuldades que encontrarão na busca por um par que consiga
conviver com tanta chatice melódica e açucarada.
E se a princesa for como Merida,
a princesa valente? Ou como a Rapunzel, na versão de Enrolados? Ou ainda como
Xena, a princesa guerreira? Como será difícil fazer casar nossas princesas, que
duvido aceitem o estereótipo de belas, recatadas e do lar. E quais seriam os
príncipes dispostos a partilhar o cotidiano doméstico com uma dessas bravas princesinhas?
O mundo dos príncipes e
princesas, na ficção e na realidade, é muito diverso também. Já não podemos
estereotipar nem mesmo a realeza, imagina as nossas crianças em seus espaços de
convivência cotidiana. É preciso tirar os antolhos, ampliar o olhar, abrir-se
ao diálogo e dialogar, se quisermos partilhar um futuro mais humano para a
humanidade.
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