quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

SOBRE PRINCIPES, PRINCESAS E ESTEREÓTIPOS (CRÔNICA DA SEMANA)


 
Entre as tantas questões, tomadas como cortinas de fumaça (bom lembrar que onde há fumaça, há fogo) nestes tempos estranhos, ressurge a discussão sobre os estereótipos que marcam o masculino e o feminino. Nem vou entrar na discussão de gênero, apenas dos estereótipos que tem se imposto sobre, como diz certa música, ser menina feminina e menino masculino. Mas o que significa ser menina feminina e menino masculino? Esta é uma pergunta bem complicada de responder.
Alguns defendem que ser menina é usar roupa rosa, laço no cabelo e brincar de casinha - e de modo algum, usar roupa azul, boné e brincar com carrinhos. Ser menino, neste contexto, é usar roupa azul, boné na cabeça e brincar com bola - e de modo algum, usar roupa colorida (rosa, nem pensar) e brincar de casinha.
Há cerca de 60 ou 70 anos esse modo de pensar era super contemporâneo. Mas, por mais que nosso saudosismo nos faça querer voltar no tempo, não dá para retroceder em algumas coisas e outras não. A bem da verdade, não é possível voltar no tempo, só é possível tentar impor velhos costumes.
Hoje os meninos aprendem que ser homem é diferente de ter filhos e posar de machão - e que ser pai significa participar da educação e do cuidado com os filhos. As meninas aprendem que ser mulher não é, necessariamente, ser mãe ou usar tailleur - e que ser mãe é também dividir as despesas da casa e com os filhos. Poucas são as mulheres que ainda casam para sair da casa dos pais, hoje elas trabalham. Poucos são os rapazes que usam postura de macho alfa para conquistar as meninas, porque se antes era patético, hoje é démodé.
Sim, os tempos mudaram. E, gostando ou não, andar na contramão é praticamente impossível, a não ser por imposição, doutrinação dogmática, ou cabresteamento. Dizer que se respeitarmos a singularidade de cada sujeito os meninos irão pensar que, tendo as meninas os mesmos direitos – ou seja, se podem usar calças e bermudas, jogar basquete e futebol, trabalhar fora de casa e ter opinião própria –, então podem levar porrada, é perpetuar uma cultura machista e violenta.
Se vamos passar a tratar meninas como princesas e meninos como príncipes, é preciso pensar que príncipes e princesas serão estes. Porque, se ser príncipe significa ser como Edward, príncipe do filme “Encantada”, um clássico da Disney, um cavalheiro melódico e potencialmente perfeito para a princesa daquela história, que também passava os dias a cantar e dançar - e que, por sinal, teve seu final feliz com um homem nada encantado -, fico pensando quantos meninos irão querer ser parecidos com o lindo Edward e nas dificuldades que encontrarão na busca por um par que consiga conviver com tanta chatice melódica e açucarada.
E se a princesa for como Merida, a princesa valente? Ou como a Rapunzel, na versão de Enrolados? Ou ainda como Xena, a princesa guerreira? Como será difícil fazer casar nossas princesas, que duvido aceitem o estereótipo de belas, recatadas e do lar. E quais seriam os príncipes dispostos a partilhar o cotidiano doméstico com uma dessas bravas princesinhas?
O mundo dos príncipes e princesas, na ficção e na realidade, é muito diverso também. Já não podemos estereotipar nem mesmo a realeza, imagina as nossas crianças em seus espaços de convivência cotidiana. É preciso tirar os antolhos, ampliar o olhar, abrir-se ao diálogo e dialogar, se quisermos partilhar um futuro mais humano para a humanidade.

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