segunda-feira, 28 de maio de 2018

SOMOS TODOS POTENCIALMENTE SALVADORES E EXTERMINADORES DA PÁTRIA

                                   (Foto da série Carga Pesada)
A paralisação dos caminhoneiros começou como uma manifestação legítima de uma classe verdadeiramente trabalhadora. Tenho por princípio apoiar manifestações legítimas, mesmo quando me atrapalham, me atrasam, porque (ainda) é um direito das classes trabalhadoras lutarem por condições mínimas e dignas de trabalho. O que vejo agora é uma outra classe se apropriando de uma mobilização que tinha uma pauta definida, desvirtuando a pauta inicial para se apropriar de um movimento. Para tanto, colocam os caminhoneiros num pedestal, como se fossem os salvadores da pátria. Os brasileiros estão sempre a buscar um salvador da pátria que nunca chegará, porque somos todos potencialmente salvadores e exterminadores da nossa pátria. Mas buscar um salvador da pátria nos desresponsabiliza e torna nossa vida muito mais tranquila, afinal se algo der errado, a culpa não é minha.
Me incomoda ver que essas mesmas pessoas que hoje apoiam e idolatram os caminhoneiros (ao menos até que termine a gasolina em seus tanques de combustível, ou que suas empregadas domésticas já não possam comparecer ao trabalho por ficarem sem transporte público) chamam professores de vagabundos quando esses fazem greve. Nunca vi a sociedade se unir para apoiar os professores no seu direito de receber o salário em dia (o mínimo que deveria ser assegurado a qualquer trabalhador) e de ter boas condições de trabalho, para que todos os brasileiros possam receber uma educação de qualidade. A educação não paralisa um país por dias, mas a falta de uma boa educação está a nos paralisar por décadas.
Nunca nem a população nem e o governo, que hoje se preocupam com os medicamentos que podem faltar nas prateleiras dos hospitais públicos, terem se preocupado com o fato desses medicamentos sempre terem faltado nas prateleiras, não por falta de transporte, mas de governança.
Esses, que agora se preocupam com a corrupção, mas não se preocupam em devolver o troco quando esse lhes é dado errado, pedem intervenção militar para acabar com a corrupção no Brasil, como se a corrupção pudesse ser resolvida por uma instituição, como se houvessem instituições livres de corrupção, como se não fosse a corrupção fruto do egoísmo humano. Pedem intervenção militar e induzem os caminhoneiros a coloca-la em sua pauta num contrassenso absurdo, uma vez que que se acontecer uma intervenção militar essa será determinada pelo governo para acabar com a paralisação que estão a fazer.
O que mais vejo nas redes sociais são pessoas apoiando algo que não conhecem, sem medir palavras, numa crença ingênua de que haverá um salvador com uma solução simples para resolver esse problema gigante e complexo como este que se chama República Federativa do Brasil. E são essas pessoas que irão para as urnas votar (se isso nos for permitido até outubro), levando seu ódio e o desejo de uma resposta bélica para pacificar e organizar o país. A violência nunca foi a solução para nada e não será para nós, brasileiros. Sigo estudando e trabalhando, de mãos dadas com aqueles que acreditam num mundo melhor feito por gente de verdade e que acredita que todos tem direito de ir e vir, de ensinar e aprender mutuamente, de trabalhar com dignidade, de ter saúde, educação e segurança na mesma medida

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