domingo, 2 de dezembro de 2018

NÓS E O FIO DE ARIADNE


“Theseus and Ariadne at the Entrance of the Labyrinth”
Richard Westall (1765 – 1836)
North Lincolnshire Museums Service 

Nós, seres humanos, somos seres de extremos - como a vida -, tão frágeis quanto potentes, ao mesmo tempo simples e absolutamente complexos. Quando nos sentimos potentes frente às situações que a vida nos impõe é mais fácil conseguirmos encontrar respostas simples para problemas complexos. O oposto também é verdade, quanto mais frágeis nos sentimos frente à uma circunstância, mais parece que estamos a andar perdidos num labirinto sem saída.
Sendo assim, é fácil compreender porque em momentos de potência, conseguimos vislumbrar a saída de um labirinto complexo, mas em momentos de fragilidade, muitas vezes, precisamos de ajuda. A principal função de profissionais da saúde e da educação comprometidos com o bem-estar de seus pacientes e alunos, é ajudá-los a encontrar a saída do labirinto.
Na vida humana existem muitos labirintos que podem se apresentar em forma de emoções não decifradas, dores inúmeras (num dente, nos músculos, na cabeça, no joelho ou até dor de amor), dificuldade para falar, para respirar, para se alimentar, se movimentar ou para organizar a vida. 
Para cada labirinto orgânico, funcional ou emocional há uma pessoa que pode nos ajudar. Mas só ajuda aquele que nos oferece o Fio de Ariadne, ou seja, o fio que nos guia para a saída do labirinto. Para isso é preciso parceria entre paciente/ aluno e profissional, é preciso diálogo, escuta amorosa, conhecimento técnico e científico. Há profissionais com muito conhecimento técnico e nenhuma escuta, muito foco científico, mas pouco foco no paciente.
Não é verdade que para ser um bom profissional no campo da saúde não se pode deixar envolver com o paciente/ aluno e sua história. Se não há envolvimento, não há comprometimento. Envolver-se potencializa e qualifica. O que não pode é deixar-se envolver de tal modo que isso desqualifique sua capacidade de decisão. Afeto e cognição não são opostos, mas complementares.
Desejo, quando trabalho na formação e qualificação de profissionais da saúde ou educação e também quando preciso de um destes profissionais como mãe, filha ou paciente, encontrar pessoas tecnicamente eficientes e amorosamente suficientes, que tenham mãos hábeis, raciocínio ágil e coração gentil.  Que tenham aptidão para escutar e avaliar a partir da pessoa que está a sua frente, com um corpo que manifesta, em seus sinais e sintomas, a ponta do fio que conduzirá à investigação que os levará labirinto a dentro. Que reconheçam quando não são capazes de encontrar a saída sozinhos e peçam ajuda. Que saibam ser equipe e não um coletivo de indivíduos, onde um fala e os outros calam. Que não errem, mas se errarem, que seja sempre a favor da vida. Que tenham humildade para reconhecer suas falhas. Mas, antes de tudo isso, que gostem de gente.
 

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