sexta-feira, 21 de julho de 2017

VOCÊ É UMA PESSOA SOLIDÁRIA?


Se é verdade (e eu penso que é) que “cada ser humano carrega, em potencial, o pior e o melhor do humano, [e] que a desumanidade faz parte da humanidade”, como fala Edgar Morin, faz sentido pensar que em cada um de nós habita um ser humano potencialmente amoroso e perverso. A questão é achar o ponto de equilíbrio no que nos constitui.   Lembrei dessa ponderação de Morin ao me deparar com duas postagens que acabo de ler no Facebook. A primeira notícia informa que “em uma das noites mais frias do ano, moradores de rua de SP são acordados com jatos d'água”. A segunda notícia, intitulada “Cabide Livre incentiva a doação de agasalhos”, fala sobre o projeto de um grupo de jovens profissionais que se uniram para fazer o bem. O Cabide Livre é uma das ações do Movimento Canto Livre (Santa Cruz do Sul, RS). O projeto consiste em distribuir cabideiros em pontos estratégicos, para que as pessoas possam deixar agasalhos para doação. E quem estiver precisando do agasalho – como aqueles moradores de rua de São Paulo – possa ter acesso a uma roupa quentinha para afugentar o frio.
Penso que colocar-se no lugar do outro é impossível. Mesmo que nos proponhamos a passar uma madrugada fria na rua, como aquelas pessoas que lá residem, sabemos que temos para onde voltar quando não suportarmos mais o frio, ou quando a experiência acabar, ao contrário de quem mora nas ruas. 
Mas é possível ter empatia, é possível ser solidário. Empatia é o ato de tentar compreender a perspectiva de outra pessoa. No entanto, para compreender a perspectiva de outra pessoa é preciso reconhecer o outro como um semelhante diferente de mim. A isso chamamos alteridade. O conceito de alteridade “parte do pressuposto de que todo indivíduo social é interdependente dos demais sujeitos de seu contexto social, isto é, o mundo individual só existe diante do contraste com o mundo do outro”.
No caso dos moradores de rua de São Paulo, que foram acordados no meio de uma madrugada fria, com água gelada sendo jogada sobre seus corpos. Pode-se pressupor que as pessoas que o fizeram são desprovidas de alteridade para com aqueles seres humanos. Não os veem como semelhantes, não os veem como seres humanos que são. 
Penso que a alteridade antecede a empatia. Preciso primeiro reconhecer o outro como legítimo outro, semelhante e ao mesmo tempo diferente de mim. Isso nos possibilita ter empatia e com ela nasce o desejo de ser solidário. 

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