quinta-feira, 16 de abril de 2020

MUDANÇA DE PLANOS


Há pouco mais de trinta dias a minha agenda estava repleta de planos. Trinta e três dias atrás eu estava dançando, embaixo de uma figueira centenária, cercada de gente bacana, com a agenda dos próximos meses recheadinha de cursos para iniciar, oficinas para ministrar, eventos para participar, viagens para realizar e um negócio para inaugurar. Em poucas horas todos os verbos deste parágrafo foram substituídos por ficar, aquietar, cuidar, resguardar, prevenir.
Meus projetos, tão concretamente encaminhados, simplesmente viram-se flutuando num vácuo que eu ainda não consegui assimilar direito. É difícil assimilar uma perda brusca, ainda que seja a perda da rotina. A psicologia chama isso de luto. São cinco as fases do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.
Por experiência de vida, tenho uma certa inclinação pessoal por transformar o luto em luta e pular algumas etapas. O problema disso é que, enquanto grande parte do Brasil ainda está, um mês depois das primeiras ações da quarentena, na primeira fase do luto, enquanto tantos seguem negando a pandemia e a existência do vírus, como se tudo isso fosse apenas uma narrativa ficcional, eu já estou em fase de aceitação faz tempo, procurando enxergar a realidade como ela realmente é.
Talvez seja difícil compreender a realidade deste momento, mas não é difícil enxergá-la. Uma dica é ouvir os cientistas e fechar olhos e ouvidos para pseudocientistas e teóricos da conspiração. Teorias da conspiração neste momento, além de não ajudar, atrapalham, causam pânico e desorganizam o pensamento. Este é um momento de unir forças e não de produzir histeria coletiva.
Como vai ser a vida depois? Como vai ficar a economia? Ninguém sabe. O que sabemos é que não estamos sós e que o umbigo do mundo é maior que o meu e o seu umbigo. Não há como prever o futuro. O que sabemos (ou deveríamos saber) é que nossas ações de agora, nosso cuidado de agora, fará toda diferença lá na frente. Penso que sempre soubemos disso, só fazemos de conta que não. Só fazemos de conta que o agora é mais importante, porque só o agora parece real, só ele nos é concreto.
A vida não vai seguir igual depois que formos capazes de conviver pacificamente com o coronavírus. A vida não segue igual depois que temos um filho, depois de perdermos um amigo, depois que passamos pela escola, nem mesmo após termos crescido e deixado pra trás a infância e a adolescência. A vida nunca é igual, não é possível voltar atrás, mas é possível fazer um novo caminho. Que o nosso caminhar seja mais justo, solidário, amoroso, sábio e empático. Antes de reaprendermos a conviver é importante que estejamos vivos. Por isso, se puder, fica em casa!

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