“Poucas vezes meu
corpo me derruba. E me assusto quando ele faz questão de mostrar que quem manda
na nossa relação é ele”. Foi assim que finalizei a mensagem que escrevi há
poucos dias para uma amiga. Naquele dia era para estarmos juntas, mas eu não
consegui, meu corpo não deixou, puxou o freio de mão.
Isso acontece com
boa parte das pessoas com quem convivo. A gente vai tocando a vida, colocando
as tarefas profissionais, acadêmicas e escolares como prioridades absolutas. Raras
são as vezes que somos prioridade em nosso próprio cotidiano. Frequentemente vamos
ao limite do cansaço físico até que, incapazes de dizer chega, o nosso corpo
fala por nós.
Sim, o corpo fala.
Ele avisa que está cansado, manda uma dorzinha aqui, uma contratura ali. Ele
também avisa quando está no limite, aumentando a intensidade ou a frequência
daquela dor ou desconforto. Mas, a gente vai empurrando pra depois, pra quando
sobrar um tempo que não sobra nunca.
Nessas horinhas o corpo,
o nosso corpo, passa a ser percebido como um incômodo, que nos limita, que
entrava nossos projetos. E já que somos incapazes de dialogar com ele, de
perguntar gentilmente o que ele tem, de que modo podemos ajudá-lo, tentamos
calá-lo, com analgésicos, antiinflamatórios, antiácidos e relaxantes musculares.
Podemos não
responder a e-mails ou mensagens no whatsApp, mas é quase impossível não
responder ao correio do corpo. Podemos deixar pra depois, mas haverá um momento
em que o carteiro baterá com tanta força em nossa porta que será impossível não
escutar suas batidas.
É fácil perceber
que estamos cada dia mais acelerados. Podemos dizer que a culpa é da tecnologia,
que foi chegando na esperança de tornar a vida mais fácil e acabou por torná-la
mais apressada. Mas a tecnologia não faz nada sozinha. Um liquidificador não
funciona se não dermos função a ele.
Se conseguirmos
compreender isso, talvez sejamos capazes de perceber que a culpa não é da
tecnologia, mas de nossas prioridades. Afinal, sou eu a responsável por
administrar o meu cotidiano. Apenas eu posso dialogar com minhas rotinas e com
meu corpo. A chave dessa caixinha de correio é minha.
Essa é mais uma
daquelas que chamo de “crônica egoísta”. Estou escrevendo para mim e
partilhando com você, que pode, como eu, ter uma grande dificuldade de escuta
do próprio corpo. Talvez você, como eu, também seja um tanto procrastinador, ou
procrastinadora, do cuidado de si. Talvez você, como eu, também se esqueça onde
colocou a chave da caixinha do correio. Talvez também precise, vez ou outra,
que alguém avise que é hora de encontrar a chave e organizar a casa corpo.
Porque se não fizermos isso, nosso corpo vai nos lembrar da bagunça que
fizemos.
Que neste Natal o
Papai Noel traga uma cópia extra da chave da nossa caixinha de correio e que
tenhamos muito cuidado para deixá-la guardadinha num lugar onde a memória possa
sempre encontrá-la. Que o espírito natalino desperte nossa capacidade de
dialogar mais e melhor com o outro e com nosso próprio corpo. Feliz Natal!!
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