quinta-feira, 19 de setembro de 2019

NÃO SOMOS ROBÔS


 
Vivemos um tempo onde com um toque na tela estamos cercados por muita gente e de ninguém ao mesmo tempo. O dito popular “longe dos olhos, perto do coração”, nunca foi tão verdadeiro. É bem menos trabalhoso amar à distância. De longe as palavras saem mais fácil e também conseguimos projetar melhor a ideia que temos de outra pessoa. Virtualmente, aos nossos olhos, o outro se torna muito mais parecido com o que desejamos que ele seja, do que ele realmente é.
Mas, se é verdade que de longe é mais fácil amar, ou admirar alguém, odiar também é. Não por acaso vemos todos os dias pessoas destilando seus preconceitos e suas mágoas nas redes sociais. É muito mais fácil odiar com distância suficiente para não sofrer uma agressão física. É mais confortável dar opiniões com distanciamento suficiente para não se responsabilizar pelas consequências das mesmas.
É fato que vivemos tempos de virtualidades e que essa é a nova tendência mundial. Mas também é fato que nos tornamos humanos na convivência com outros humanos. Aprendemos a falar, ouvindo pessoas conversar. Quando crianças, aprendemos, na escuta do diálogo, que há tempo para falar e tempo para calar, que existem diferentes entonações para expressar, através da voz, diversos sentimentos.
É na convivência com outros humanos que percebemos nossa singularidade e nos constituímos enquanto sujeitos. Foi no brincar que aprendemos o movimento, que possibilitou outras aprendizagens. Foi na partilha dos brinquedos e dos materiais escolares, que aprendemos a ser menos egoístas. É nas rodas de conversa, com pretexto de tomar chimarrão ou cafezinho, que resgatamos as memórias que nos lembram quem somos. Afinal, somos aquilo que lembramos sobre quem somos.
Não somos robôs. Nossa memória não é um chip. Nosso corpo não é um gabinete que protege uma Unidade Central de Processamento (CPU). E nosso cérebro não é uma CPU, que armazena informações transcritas. Somos organismos vivos, aprendemos pela experiência vivida e compartilhada e não por transferência de dados.
Nós não nascemos humanos, nos tornamos humanos no convívio cotidiano e real com outros humanos. Este aprendizado se dá por muitas vias. Para aprender precisamos ver, sentir, tocar, cheirar, ouvir. Relações virtuais são interessantes, mas não substituem um abraço e todos os sentidos que ele estimula e faz transbordar em nós. Neste sentido, abraçar - demorada e amorosamente - e acolher o abraço, são atos que nos tornam potencialmente melhores.

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