domingo, 15 de setembro de 2019

A LENDA DA LAGOA ENCANTADA (RECONTO DO FOLCLORE GAÚCHO)

 

Contam que na região do Alegrete (Oeste), pras bandas da Serra do Caverá, existe uma lagoa de água salobra, que guarda em suas profundezas histórias de mistério e encantamento.  

A Lagoa é mágica mesmo!! - É o que dizem os gaúchos que moram pra aquelas bandas. Esses gaúchos, moradores e avizinhados do Caverá, dizem que à noite não passam nem por decreto perto da tal lagoa. Contam que é sabido que aqueles que se aventuram a passar por lá quando a lua vai no céu, é atingido por bolas de fogo que pulam de dentro da lagoa para cima do lombo do cavaleiro. Os que não sabem do encantamento são pegos de surpresa pelas tais bolas de fogo. E poucos são os que, sabendo do tal encantamento, se atrevem, por coragem ou por necessidade, passar perto de suas margens no transcorrer da madrugada.

Os viventes daqueles pagos dizem ainda que em períodos de seca, quando as águas da lagoa baixam, pode-se ver uma grande corrente, grossa e enferrujada. Vê-se apenas uma ponta, porque a outra fica lá, mergulhada no fundo da lagoa. A corrente desafia quem a vê e há quem já tenha se empenhado a tirá-la de lá. Homens e mulheres, jovens e mais velhos, ajudados por cavalos, burros, juntas de bois, já tentaram puxar a tal corrente para fora da lagoa e nada!!!

A Lagoa Encantada segue lá, mansa e linda, inspirando poetas e apaixonados com suas águas serenas. Dizem que nesta lagoa nasceu também uma linda história de amor, há muito, muito tempo. Contam que naquela região, nos tempos de antigamente, vivia uma tribo de índios Charruas. Os índios charruas foram os primeiros alegretenses. Nessa tribo vivia uma jovem índia chamada Poty-poran. Muitos guerreiros da tribo Charrua eram apaixonados por Poty-poran e faziam de tudo para agradá-la. Os mais valentes procuravam fazer os feitos mais extraordinários para chamar sua atenção e conquistar seu coração arredio.

Contam que certa vez, Inhancá-Guará, um dos guerreiros apaixonados por Poty-Poran, viu na beira da Lagoa Encantada um cavalo sem igual, de crinas prateadas e de um pelo muito negro, brilhante e macio como veludo. Inhancá-Guará pensou em jogar as boleadeiras no animal para levá-lo de presente à Poty-Poran e finalmente conquistar seu coração.

O índio encarou o animal e estranhamente o cavalo não se mexeu. Inhancá-Guará resolveu então se aproximar. E o cavalo, vendo que o índio se aproximava continuou lá, sereno, sem se opor à aproximação. Inhancá-Guará resolveu então guardar as boleadeiras e foi se aproximando suavemente, assobiando e sorrindo para o animal, que deixou-se ser acarinhado e encilhado pelo índio.

Inhancá-Guará colocou o bocal, as rédeas e até o couro de jaguaretê que usava para montar, sobre o lombo do estranho cavalo, que se deixou ser encilhado com tranquilidade. Depois de devidamente encilhado, Inhancá-Guará alçou a perna e montou de um salto só sobre o cavalo. O animal, após alguns passos mansos, disparou enlouquecido para dentro da lagoa escura, com Inhancá-Guará sobre seu lombo. E assim, desapareceram para sempre, cavalo e cavaleiro.

Poty-poran, ao saber da tragédia, colocou-se à chorar na beira da lagoa e suas lágrimas salgadas tornaram a água da lagoa salobre. E assim a lagoa é chamada até hoje: Lagoa Parobé, lagoa de água salobre, na língua dos índios.

*Reconto do folclore sul riograndense, inspirado na narrativa da Lenda da Lagoa Parobé. A Lenda da Lagoa Parobé é descrita do livro Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul, de Antônio Augusto Fagundes, Ed. Martins Livreiro. 

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