Quem quiser parar pra ver, pode até se surpreender:
vai ler nas folhas do
chão, se é outono ou se é verão;
nas ondas soltas do mar, se é hora de navegar;
e no jeito da pessoa, se
trabalha ou se é à-toa;
na cara do lutador, quando está sentindo dor;
vai ler na casa de
alguém o gosto que o dono tem;
e no pelo do cachorro, se é melhor gritar socorro;
e na cinza da fumaça, o tamanho da desgraça;
e no tom que sopra o
vento, se corre o barco ou vai lento;
também na cor da fruta, e no cheiro da comida,
e no ronco do motor, e nos dentes do cavalo,
e na pele da pessoa, e no brilho do sorriso,
vai ler nas nuvens do
céu, vai ler na palma da mão,
vai ler até nas estrelas e no som do coração.
Uma arte que dá medo é
a de ler um olhar,
pois os olhos têm segredos difíceis de decifrar.
Poema extraído do livro “Dezenove
poemas desengonçados”, de Ricardo Azevedo (Ed. Ática,1999).
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