sexta-feira, 5 de abril de 2019

NÃO VAI FICAR PRA SEMENTE E QUEM NASCEU PRA VENTANIA (CRÔNICA DA SEMANA)


Eu tinha apenas um ano de idade quando Gaudêncio Sete Luas, majestosa narrativa de Luiz Coronel e melodia de Marco Aurélio Vasconcelos, foi apresentada na 2ª Califórnia da Canção Nativa (Uruguaiana, RS), lindamente interpretada pelas vozes de Leopoldo Rassier e Lucia Helena. Em 1972, pensar que teríamos um computador portátil nas mãos, que nos conectasse com pessoas do mundo todo em tempo real, era possível apenas na ficção científica. Menos de 50 anos depois, podemos nos conectar com gente do mundo inteiro desde nossas casas, da escola, do trabalho, do supermercado e até de um banco de praça.
Hoje podemos nos comunicar com muito mais facilidade e, ao que parece, nos comunicamos muito pior. Porque não é o acesso a uma ampla rede de comunicação que viabiliza o diálogo, mas sim o desejo de dialogar, de ouvir e também de ser ouvido, de ser respeitado, e também de respeitar. Quando acesso as redes sociais, parece que entro num espaço onde a grande maioria das pessoas está a gritar e não a dialogar. Há mais combate do que diálogo, um desejo manifesto de aniquilação e não de religação. No entanto, uma ou outra notícia boa pipoca aqui e ali, notícia de gente que faz a diferença sem gritar, que planta sementinhas de esperança, de bem querer, de alteridade, de cuidado. Gente que não faz barulho, que não planta ventania, nem provoca tsunamis, mas que faz a revolução a partir de ações que unem, que acolhem, que deixam cair na terra novas sementes para fazer florescer algo bom nesse mundo tão doente. Nos dias de hoje ou você é semente ou é ventania, porque como escreveu Luiz Coronel (ainda que em outro contexto) em sua Gaudêncio Sete Luas, “não vai ficar pra semente quem nasceu pra ventania”.

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