Na semana em que
celebramos o Dia Nacional do Livro (29 de outubro), vivemos também o fim de um
período eleitoral difícil no Brasil, amparado por uma overdose de imagens e mensagens lançadas freneticamente na TV,
jornais e redes sociais. Eram tantas que embaralhavam os olhos e o pensamento.
Eram tantas que cansavam, e no cansaço de tanta informação, muitos se prendiam
apenas ao título. Não dava tempo para ler uma reportagem ou entrevista, ou
checar a fonte da informação, pois logo éramos bombardeados com outras tantas
informações. E cegos de tanto ver e pouco ler, muitos compartilhavam a
informação que não informava, a informação mentirosa.
É urgente resgatarmos
a curiosidade, que nos faz ir atrás das informações. É urgente resgatarmos (ou
adquirirmos) a habilidade de ler o texto e interpretar seu contexto. Mas, para que
isso aconteça, é imprescindível conhecermos a história, para que possamos
compreender o momento histórico de cada narrativa. Somos quem somos porque nos
sabemos. E nos sabemos porque temos memórias que nos constituem, lembranças de
momentos vividos e outros tantos narrados por nossos pais, avós, familiares. Sem
nossas memórias deixamos de ser, uma vez que já não nos sabemos.
Vivemos um tempo
estranho, de ataque à literatura, especialmente a literatura infantil. Livros
infantis, alguns escritos e lidos a mais de 30 anos, são vistos hoje como uma
ameaça. O que estamos fazendo com nossas crianças? Estamos roubando delas toda
forma de pensamento crítico, não queremos que leiam, que discutam, que
contestem, que sejam. Que ingenuidade pensarmos que o mundo será melhor assim,
com seres obedientes e alienados. Não estamos a medir o risco de uma geração
que já nasce cercada de tecnologia e não desenvolve capacidade de questionar o
que está em frente a seus olhos. Crianças questionadoras dão trabalho para
pais, professores e quem mais estiver por perto. Mas quem escolhe ter filhos,
ou trabalhar com crianças, deveria saber que crianças dão trabalho.
E não venha
reclamar que os adolescentes não saem da frente do computador. Que alternativa
lhes oferecem os adultos? Convidam para um passeio, para ir ao cinema, para ler
uma história juntos, para jogar um jogo, ir ao teatro? Os adultos são parceiros?
Os adultos largam seus afazeres para convidá-los para partilhar o tempo?
Convidavam para esta partilha quando ainda eram pequenos?
Vejo pouca perspectiva para um país que lê
pouco, que não interpreta o que lê, que censura seus artistas, que recrimina
seus professores, um país onde a sociedade está mais ocupada em vociferar do
que poetar, um país onde pais se preocupam mais em domesticar do que acarinhar,
dialogar, estar junto. Mas acredito num país de pessoas que se dão as mãos para
partilhar o tempo, que sentam em roda para ler histórias, cantar, conversar.
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