Aniversário não é final de ciclo, fim de ciclo
é véspera. Aniversário é dia de novo ciclo, de recomeço, de reflexão, de
olhar pra trás com olhar crítico e ao mesmo tempo amoroso, para que se possa
seguir o caminho honrando o passado. O caminho deste último ano não foi fácil,
foram perdas irreparáveis, momentos difíceis, que exigiram e seguem a exigir de
mim um novo modo de caminhar. Nunca tive crise de identidade em idade alguma,
nem nos 30, nem nos 40 e não vai ser nos 47 que vou ter, apesar do nó que
o coração carrega nesse novo início de caminhada. Os outros 46 iniciaram-se,
sem dúvida, com mais leveza, foi mais fácil olhar pra frente com olhar
carregado de esperança.
Neste primeiro passo, nessas primeiras palavras
que escrevo no primeiro dia dos 47 (e não poderia iniciar de outra forma que
não escrevendo – e também preparando uma vitamina para o filho -), preciso reinventar
esperança no olhar para reconstruir afetos de uma casa ¼ mais vazia e de um país
um tanto mais devastado em sentimentos e afetos. Não sei dizer o que dói mais, pois as duas perdas, a do
filho e a da crença de éramos seres humanos melhores do que temos nos mostrado,
doem tanto que não há como medir. Uma é a dor pelo filho que se foi, a outra é
a dor pelo futuro do filho que segue a caminhada ao meu lado, uma caminhada de
tantas incertezas (só incertezas), inundada por palavras de ódio que reverberam
pelos muitos cantos do país, a nutrir o desamor, o preconceito e a intolerância.
Mas sempre, nestes momentos de tristeza, vejo
apenas duas possibilidades, dois caminhos que se apresentam em sentido vertical.
Ou me jogo no poço, ou sigo aqui em cima, onde ainda posso vislumbrar caminhos horizontais. Já sei como é lá embaixo e também sei o tanto que é difícil saltar
pra fora. Então fico aqui, porque sei que aqui em cima, se tem gente que apaga
a vela para escurecer o caminho (seu e dos outros), há tantos outros a ser
luz para iluminar o caminho (seu e dos outros). Eu quero ser luz e também me
deixar cercar de seres luz.
Não sei os caminhos que se apresentarão daqui
pra frente, mas sei que quero luz para poder trilhá-los. Sei que a saudade do
filho só fará crescer, mas quero alimentá-la de boas memórias e não de
tristezas. Sei que a vida do filho que segue ao meu lado me precisará forte,
âncora e luz. Não sei pra onde vamos, nem pra onde vou, mas sei que quero estar
cercada de gente luz, que saiba o significado das palavras amor, amizade, laços
e também namastê, shalom, ubuntu e ho'oponopono.
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