(Concepção
abstrata feita de engrenagens, elementos de relógio, mostradores e dinâmicas
swirly linhas sobre o assunto de horários, prazos, progresso, passado, presente
e futuro — Foto de agsandrew)
São estranhas
nossas urgências, uma pressa que não existia cinco minutos atrás e que de
repente torna-se questão de vida ou morte. As pessoas congelam o tempo durante
a final de um campeonato de futebol, durante o último episódio da telenovela e
a transmissão de casamentos reais, congelam até quando o olhar e os polegares
caem sobre a tela do celular. Mas logo que o evento acaba, surgem as urgências.
É como se as pessoas, de repente, saíssem de um loop de tempo e resgatassem memórias de um cotidiano que estava em
estado de espera. De súbito a roda gigante da vida volta a girar.
Por cerca de uma
ou duas horas – um pouco mais para os casamentos de príncipes e princesas – a
vida pode esperar. Estes momentos, em que se é sugado para um outro lugar e a
realidade desaparece com todos os seus problemas, são necessários. Questionável
é o despertar acelerado. Esses pequenos anestésicos contribuem para que a
complexidade do aqui e agora possa ser vivida sem maiores sofrimentos, uma vez
que não podemos resolver todos os problemas do mundo. Muitas vezes, somos
incapazes de resolver até mesmo nossos próprios problemas.
Mas, talvez, se as
pessoas fossem capazes de se envolver umas com as outras do mesmo modo como se
envolvem com uma partida de futebol, na discussão pela vida dos personagens da
novela, ou do casal famoso que acaba de se separar, fôssemos capazes de
perceber que a vida real pode ser tão intensa e interessante quanto a ficção.
Nietzsche, o
filósofo alemão, disse que temos a arte para não morrer da verdade. Para os que
amam os esportes essa máxima nietzschiana também é verdadeira, por isso há que
se compreender e respeitar os que amam as artes, assim como os esportes, o
artesanato, a culinária, tudo aquilo que lhes permite não morrer da verdade.
É preciso
encontrar formas de dar vazão aos sofrimentos cotidianos, sejam eles do tamanho
que forem, para que se possa viver bem. Mas não devemos, com isso, esquecer de
viver o mundo que nos pertence, que pode ser tão fantástico ou distópico quanto
os universos ficcionais. Também temos nossos zumbis, eles só são mais bem
disfarçados (ou não) que os das histórias de ficção, mas temos também fadas,
elfos, magos, sereias.
Quando ocorre
alguma mudança no nosso percurso e precisamos viver a realidade um pouco diferente
do que estamos habituados, estranhamos. Podemos viver as nossas dores, nosso
sentir, nossos afetos, de modo solitário, ou podemos partilhar da experiência
do outro, daqueles nos são parceiros de jornada. Por vezes, a dificuldade do
outro é tão maior que a nossa, que conseguimos redimensionar nosso modo de
sentir e pensar a vida.
É importante
lembrar que no jogo da vida algumas partidas são ganhas e outras perdidas, mas sempre
encontramos pelo caminho torcedores, jogadores e equipe técnica, dispostos a
jogar juntos e torcer. As situações cotidianas podem ser mais ou menos urgentes,
mas quase nunca estamos sós para enfrentar as adversidades. Importante mesmo, urgente de verdade, é
lembrar de viver a vida real, se possível com empatia, respeito e desejo de (con)viver.
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