Ninguém gosta de
ser enganado, seja pelo atendente de caixa do mercadinho da esquina, seja pelas
voltas estranhas que a vida pode dar. Nós, seres humanos também não gostamos de
perder. E por não gostarmos da derrota, pensamos que o oposto de perder é ganhar.
E por querer ganhar, acreditamos que competir é o único caminho possível para
nos tornarmos vencedores.
Segundo Humberto
Maturana, reconhecido neurobiólogo chileno, a vitória é um fenômeno cultural
humano. Outros seres vivos competem entre si por razão de sobrevivência, mas não
pelo prazer em derrotar o outro. No universo humano competitivo, no entanto, a
vitória se constitui sempre na derrota do outro, um fracasso que é culturalmente
desejável e tranquilamente aceito.
Existe um outro
caminho para vivermos socialmente de modo mais harmônico, que é o da
cooperação. Mas, desde muito cedo, somos iniciados no universo da competição e
a conviver cotidianamente com nossas perdas e ganhos. Quando perdemos, no jogo
ou na vida, podemos lamentar ou aprender com a derrota, podemos sofrer com a
dor ou aprender com ela. Aprender é, geralmente, o caminho mais trabalhoso,
mais demorado, mas o único que nos permite seguir em frente mais sábios e com
cicatrizes menos doloridas, ainda que profundas.
No último ano deixei
de conviver com muitos amigos que partiram deste mundinho. Nossa amizade não se
perdeu, pois os amigos não deixam de ser amigos quando vão morar em outros
países. Então, porque deixariam de ser por ir morar em outros asteroides,
planetas, universos ou dimensões?! Seguimos amigos, mas perdemos a
possibilidade do calor do abraço, do olho no olho, da palavra trocada, do
encontro físico. A senhora dona boa morte que os levou para viajar, não desfez
nossa amizade, apenas dificultou o encontro.
Outros amigos,
porém, seguem firmes neste planetinha. E ainda que cheios de saúde e condição para
acolher o abraço, permitir o encontro, sustentar o diálogo, escolheram abrir
mão disso. São tempos estranhos esses que perdemos amigos por ouvir dizer que, por
não conseguirmos sustentar um diálogo racional, por termos deixado a barbárie e
as teorias conspiratórias mais estapafúrdias tomarem conta do discurso de tal
modo que perdemos a razão. E quando perdemos a razão, as emoções que
transbordam são as piores.
É difícil saber o
que vamos aprender com essa dor e é muito difícil não sofrer com ela. Quando
perdemos uma pessoa querida para a senhora dona boa morte o laço de amizade se
sustenta, apesar da distância. Quando perdemos uma pessoa querida (ou quando uma
pessoa querida se perde) para o ego ou para a crença cega, o laço de amizade se
desfaz, apesar da presença física. Quando uma amizade se desfaz, todos os lados
perdem.
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