Certa vez uma
criança me perguntou se o personagem de um dos meus livros infantis era meu
filho de verdade. Eu respondi que sim. Outra criança disse: Mas ele é só um personagem
dentro de um livro! Eu respondi que todos os personagens são como filhos para
os escritores. Ah, mas então não é filho de verdade! – Comentou outro menino.
Num outro episódio
de diálogo com crianças uma delas me perguntou quem era aquela pessoa que havia
escrito na contracapa de um de meus livros. Eu respondi que era o padrinho da
personagem. Mas como ele pode ser padrinho se ela não existe de verdade? –
Perguntou-me seu colega. Respondi que personagens são como filhos e que os
adultos costumam escolher padrinhos para seus filhos. Mas ela é só uma personagem!
- Insistiu o menino.
Naquele momento eu
me esforcei para encontrar uma resposta que, ainda que não fizesse muito
sentido, acomodasse algum sentimento. A criança que habita em mim também
precisa de respostas que caibam no coração. Foi então que surgiu uma imagem
mental que me ajudou muito.
É comum, quando se
quer explicar para uma criança o que é adoção, que utilizemos a expressão “mãe
de coração”. Dizemos que existem crianças que nascem dos ventres de suas mães e
outras que nascem do coração. Foi a partir dessa narrativa que inventei uma
outra. Disse que existem crianças que crescem nas barrigas de suas mães, outras
nos corações e tem também aquelas que crescem e nascem da imaginação. Esses
pais e mães que tem filhos nascidos da imaginação chamam-se escritores.
Crianças sabem como
colocar adultos em saias justas. Mas nós podemos beber do mesmo líquido que bebeu
Alice no Salão das Portas e, como ela, encolher um pouco para caber nas pequenas
e justas saias, conseguindo entrar, desta forma, no País das Maravilhas que é
(ou deveria ser) o pensamento infantil.
Adultos que não conseguem
beber da garrafinha de Alice encontram mais dificuldade para dialogar e perdem oportunidades
preciosas de aprender. É uma delícia quando conseguimos estabelecer um diálogo amoroso
com os pequenos, pois crianças imaginativas encontram soluções mais criativas
do que os adultos para as questões cotidianas. Mas, como já afirmava o Pequeno
Príncipe: “as crianças têm que ter muita paciência com as pessoas grandes”.
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