As redes sociais
são espaços de grande partilha de afetos. Houve um tempo, porém, em que
partilhávamos afetos mais interessantes e menos tóxicos. Pouco tempo atrás as
imagens e palavras compartilhadas nos espaços virtuais pareciam fazer mais
sentido. Haviam páginas de notícias falsas, mas estas já se anunciavam como
isentas de verdade, deixando claro seu desejo de divertir com humor e não de inventar
novas verdades, ou criar falsas narrativas para recriar a história.
O que lemos e vemos
hoje nas redes sociais é que o mundo está perdendo a graça e isso não é em função
do politicamente correto. Ao contrário, assistimos à normalização e à
normatização do politicamente incorreto. O que antes era vergonhoso, passou a
ser motivo de orgulho e ostentação. Para muitos é bacana mostrar-se agressivo, repressor,
desrespeitoso, preconceituoso, racista, misógino, homofóbico, antiético,
nepotista, ignorante. As pessoas
aplaudem e mitificam esse tipo de atitude e buscam argumentos para justificar o
injustificável, ainda que para isso destruam a ciência, a educação, a nação, o
planeta.
Não há
justificativa racional para o que estamos vivendo nas redes sociais e para tudo
que transbordou para fora delas. Não é racional, é apenas visceral. Abrimos mão
da nossa caminhada enquanto espécie, escolhemos andar de marcha à ré com uma
pressa absurda para voltar ao passado, à idade média, às cavernas. A ciência e os
cientistas são todos os dias desacreditados com argumentos que não são
argumentos, são opiniões de meninos mimados que ganharam o poder e agora
brincam de o chefe mandou com o planeta, com a vida das pessoas, com as
relações humanas, com o destino de todos nós.
Quando é que vamos
entender que estamos todos no mesmo barco, que moramos todos num mesmo mundinho
de recursos esgotáveis? Não somos avatares, não haverá play again depois
do game over. Desmatamento, aquecimento global, degelo, acúmulo de lixo,
poluição, falta se senso crítico, de comprometimento, de empatia, isso vai nos
matar. É verdade que todos vamos morrer um dia, mas estamos antecipando a nossa
morte e a dos recursos do planeta, por aplaudirmos e sermos coniventes com a
burrice e a prepotência.
As redes sociais
são espaços de grande partilha, mas somos nós que escolhemos o que ver, ouvir,
partilhar. Se escolhemos partilhar mentiras e violência é bom lembrar que a
vida é um grande boomerang. E lembre-se, não somos avatares, somos pessoas
dando e recebendo de volta o eco daquilo que partilhamos. Não haverá play
again para a nossa geração, mas talvez possa haver para a de nossos filhos
e netos. Talvez eles possam dar restart se nós iniciarmos o reset. O controle desse jogo está em nossas mãos.
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