Humanização é um assunto que
os profissionais da saúde discutem, fazem cursos, escrevem artigos. Falar sobre
humanização sempre me provoca dois pensamentos imediatos. O primeiro é que este
tema deveria ser discutido em todos os campos de formação e de atuação humana.
O segundo é que, se afirmamos que humanização é um tema relevante e uma prática
fundamental, quando foi que começamos a deixar de ser humanos?!
Edgar Morin, grande pensador
francês, diz que “cada ser humano carrega, em potencial, o pior e o melhor do
humano, [e] que a desumanidade faz parte da humanidade”. Ou seja, todos nós
somos seres potencialmente amorosos e vingativos, pois até mesmo o tirano mais
desumano que habita o nosso imaginário é capaz de se apaixonar e ter amigos.
Neste sentido, ao se falar em
humanização, presume-se que já conseguimos fazer a autocrítica e compreender
que somos seres complexos, cheios de potencialidades para o bem e para o mau. No
entanto, basta passar trinta minutos nas redes sociais ou assistir duas pessoas
conversando, com pontos de vista contraditórios, para concluir que estamos
muito distantes dessa autocrítica.
Nessas situações é comum
observarmos que cada pessoa se agarrada às suas crenças, quase sempre tomadas
como verdades absolutas, para se colocar no lugar de detentor da verdade e
modelo de bondade humana. Se é verdade que “a desumanidade faz parte da
humanidade”, porque é tão difícil nos aceitarmos como seres contraditórios que
somos?
O Morin faz, no meu modo de
entender o mundo, uma belíssima análise de quem somos. Diz ele: “O homem é
racional, louco, produtor, técnico, construtor, ansioso, [...] instável,
erótico, destruidor, consciente, inconsciente, mágico, religioso, neurótico;
goza, canta, dança, imagina, fantasia. Todos esses traços cruzam-se,
dispersam-se, recompõem-se conforme os indivíduos, as sociedades, os momentos,
aumentando a inacreditável diversidade humana”. Sim, a análise de Morin é
complexa e por isso mesmo acolhe nossos traços mais contraditórios.
Queremos sempre mostrar o
nosso melhor, vender a nossa melhor imagem. Muito cuidado quando se filiar às
ideias de outra pessoa porque ela se diz um cidadão do bem. Na prática, ser uma
pessoa razoável é mais difícil (e mais trabalhoso) do que ser uma pessoa boa, porque
isso implica em ser capaz de ponderar e conseguir equilibrar esses muitos que
somos, esses múltiplos traços contraditórios que temos.
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