quinta-feira, 8 de junho de 2017

SOBRE FELICIDADE E SOFRIMENTO (I)


No mundo da mitologia o sofrimento é, com frequência, fruto de um castigo. Na vida contemporânea evita-se falar sobre ele, como se falar sobre temas como sofrimento, doença ou morte fosse um mau agouro. Nessa lógica, muitos adultos vão buscando formas de negar às suas crianças experiências desagradáveis ou frustrantes, como se o sofrimento fosse algo inteiramente ruim e a felicidade plena e contínua fosse algo possível de ser alcançado.
Nós, seres vivos, aprendemos com todas as experiências vividas. É verdade que nem todas elas serão prazerosas, mas aprenderemos. Por exemplo: para aprender a andar de bicicleta uma criança levará muitos tombos, esfolará os joelhos, sentirá dor. Mas quando tiver aprendido a andar na sua bicicleta, a dor sofrida será uma experiência passada e já não significará mais sofrimento. O que prevalece é a alegria da conquista. No entanto, se quiser aprender novas manobras em sua bicicleta, ela terá que sofrer outras quedas, poderá até quebrar um braço ou uma perna, mas continuará tentando. E a alegria virá a cada nova conquista. E cada manobra exitosa será uma experiência de felicidade.
Neste sentido, sofrimento e alegria não são antagônicos, mas interdependentes. Não somos necessariamente vítimas nem heróis numa situação de sofrimento, apenas somos. Acontece que para muitas pessoas, apenas ser não parece suficiente, é preciso demarcar território. Se você circula pelas redes sociais poderá ver dois tipos de situação se repetindo diariamente. A primeira é a pessoa feliz, sempre, sobre qualquer circunstância e em qualquer tempo. Apenas fotos bonitas, de bom convívio familiar e belas paisagens são postadas. Se você vive neste planeta deve saber que o mundo não é tão cor de rosa assim. Fique atento e não caia nessa armadilha!
A segunda situação é das pessoas que descobriram que ser infeliz também dá ibope. Então, ao levantarem de suas camas, logo escrevem em suas redes: “Sentindo-se infeliz!”. Depois esperam pela enxurrada de: “o que aconteceu?/ Está tudo bem?/ Você está doente?” É comum que essa situação dê mais ibope que a primeira, afinal a curiosidade pela tragédia é natural dos seres humanos.
No dia a dia, quando alguém me pergunta se estou bem, minha resposta é quase sempre sim. Porque o sim não exige explicação. Ninguém quer saber porque você está bem. Mas responde um não para ver quantas perguntas surgirão!!
O fato é que só sabemos que estamos felizes porque a vida nos permite experimentar outras possibilidades. Essas experiências não são contraditórias, mas complementares e constitutivas de quem somos. Precisamos aprender a nos alegrar pela vida compartilhada e pelas experiências vividas no nosso cotidiano, mesmo quando o sentimento que produzem em nós não é o que desejávamos. Afinal, como disse Guimarães Rosa: “a felicidade se acha é em horinhas de descuido”. Não descuide da vida!!

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