No início do mês de junho, os
alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma Escola de Novo Hamburgo, participaram
de uma festa onde a temática era "se tudo der errado". A comemoração
convidava os alunos a se fantasiarem com trajes de profissões ou atividades que
considerariam como possibilidade, caso reprovassem no vestibular. Entre as
opções elencadas pelos adolescentes estavam garis, atendentes de supermercado, vendedores,
faxineiros, ambulantes, mecânicos, cozinheiros e por aí vai.
As
críticas sobre esse episódio foram muitas e o fato ganhou repercussão nacional.
Penso,
a partir desse lugar que habita o meu sentipensar, que o grande problema da proposta desta festa não foram as
“fantasias”, mas a ideia de que aquelas profissões fossem menos importantes que
outras.
Percebo,
no entanto, que as críticas sobre os eventos cotidianos tem, muitas vezes, se
mostrado tão agressivas e raivosas que me pergunto para onde elas nos levam. Vivemos
um tempo de muitas contradições. Inúmeros movimentos defendem com unhas e
dentes os direitos de diferentes grupos humanos. Movimentos necessários, mas que
ao defenderem seus ideais de forma agressiva, ampliam a exclusão social,
trilhando um caminho contrário ao da inclusão que almejam, com argumentos
muitas vezes rígidos e contraditórios.
O fato é que as pessoas estão
mais agressivas e decretaram o fim do bom humor. Logo ele, o humor, que sempre
foi espaço para crítica social, agora é tomado como ofensivo em qualquer
dimensão. É claro que o humor vive na corda bamba de uma linha tênue, mas o filósofo
alemão Friedrich Nietzsche disse
certa vez que "a objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de
troçar são sinais de saúde. Tudo o que é absoluto pertence à patologia".
Estamos vivendo o tempo das
muitas certezas, da razão absoluta e binária, da sisudez que beira a chatice.
Estamos nos tornando chatos!! Do carnaval às festas juninas, tudo tem se
tornado um grande problema social a ser discutido sem flexibilidade e nenhum
diálogo. Vestir-se de caipira, usar peruca black power, turbante, pilcha,
jaleco, nada mais pode!!
Penso que é preciso uma
perspectiva mais ampla e amorosa para analisar o cotidiano. Nem toda
brincadeira ou fantasia é utilizada para humilhar e desprezar o outro. Mas
parece que todo mundo anda armado para se defender de tudo, o tempo todo. Não
importa o contexto, ninguém quer saber. E nesse embalo o mundo vai ficando tão
fragmentado e sem diálogo que vamos virar ilhas, sem possibilidade de acesso e
comunicação com qualquer continente. Avançamos
rapidamente rumo à agudização dessa patologia que se chama egocentrismo!!
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