Quando uma vela é
usada para acender outra, sua chama não se extingue, ou diminui, porque acendeu
uma nova vela, ela se mantém igual. No entanto, a outra vela só ganha luz
porque alguém emprestou sua chama. Cada
vela pode queimar solitária, mas quando sua cera terminar, ela deixa de
existir. No entanto, se uma vela partilhar o fogo, sua chama continuará existindo,
mesmo depois que sua cera derreter por inteiro. E se a vela que recebeu o fogo seguir
partilhando, a chama da primeira vela pode continuar existindo. E quanto mais
velas forem acesas com a sua chama, mais tempo sua luz se manterá viva,
aquecendo, iluminando, mostrando o caminho a outros seres.
A primeira
história do belíssimo “Livro dos Abraços”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano,
é uma metáfora sobre nós, seres humanos, e nossa luz. Em seus livros, Galeano
fala sobre a vida e tudo aquilo que a torna mais ou menos humana, através de
uma prosa poética repleta de metáforas. Há quem não aprecie, quem prefira
textos mais diretos. Mas quem gosta de metáforas, poesia em prosa e uma pitada
generosa de criticidade, deleita-se ao ler sua obra.
Em “O mundo”,
Galeano conta que certa vez um homem subiu aos céus e que de lá pode contemplar
a vida humana. Quando voltou, o homem disse que, observando lá do alto, somos
um mar de fogueirinhas. E ainda, que não existem duas fogueiras iguais, cada
uma brilha com luz própria entre todas as outras. Observou também que certas fogueiras
não iluminam, nem queimam, mas que outras incendeiam a vida de tal modo, que é
impossível se aproximar delas sem deixar-se aquecer e até incendiar por sua
chama.
Em sua narrativa Galeano
aponta nossas diferenças com respeito e amorosidade. Está tudo bem em sermos
diferentes, grandes, pequenos, velhos, novos, multicoloridos, pluriafetivos. A
questão é, nossa luz é capaz de iluminar a vida de outras pessoas? Estamos dispostos
a deixar nossa chama aquecer outros seres? Conseguimos acender outras
fogueiras, velas, lampiões, com a nossa chama?
No dia a dia nos
deparamos com pessoas iluminadas, que com um sorriso já nos incendeiam, nos
encantam, nos motivam. Encontramos também, verdadeiros extintores de incêndio,
que já chegam apagando qualquer possibilidade de aproximação. Há também os que
são vento frio, que gelam a vida e sopram discretamente a chama da vela ao
lado.
A pergunta que
carrego comigo é, quem eu quero ser e quem eu consigo ser no meu dia a dia? Nem
sempre consigo ser fogueira de São João, mas posso escolher partilhar o
foguinho que me habita com outras pessoas, para que, quando minha chama estiver
fraca ou apagar, outros possam me acender novamente.
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