Dizem que não é
verdade a história de que o avestruz enfia a cabeça no buraco quando está com
medo. Parece que ele nem mesmo coloca a cabeça dentro de um buraco, apenas
encosta a cabeça no chão para escutar quando o inimigo se aproxima.
Mas nossa imagem
mental, do animal que esconde a cabeça e deixa o resto do corpo aparecendo para
fugir do problema, é forte. Não por acaso, chamamos de estratégia do avestruz a
tática de ignorar problemas reais ou potenciais, tratando-os, muitas vezes,
como pouco relevantes, minimizando seu impacto social ou pessoal. Assim fazemos com todos os temas tabus como
sexualidade, drogas, alcoolismo, gravidez na adolescência, depressão, suicídio,
violência e por aí vai.
Há quem pense que
educação sexual nas escolas incita o desejo e até a promiscuidade. Não,
educação sexual ensina os jovens a se prevenir de uma gravidez precoce e
indesejada e de doenças sexualmente transmissíveis. – Mas se falar sobre isso
os jovens vão querer ter relações sexuais, - você pode pensar. Acontece que não
falar sobre isso não fará com que os jovens não queiram ter relações sexuais,
apenas os deixará vulneráveis. Não falar sobre sexualidade em casa e na escola
é usar a estratégia do avestruz.
O mesmo ocorre com
muitos outros temas considerados tabus. Estamos no mês do setembro, mês em que
a população é chamada a pensar e falar sobre um tema difícil e doloroso. Faz
alguns anos que o mês de setembro tornou-se amarelo e isso nada tem a ver com a
chegada da primavera ou o florescer dos ipês, o Setembro Amarelo é uma grande e
importante campanha de prevenção ao suicídio. Neste mês especialmente busca-se conscientizar
a população sobre os fatores de risco para o comportamento suicida e orientar
para o tratamento adequado dos transtornos mentais, que representam 96,8% dos
casos de morte por suicídio, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.
É verdade que precisamos
falar sobre suicídio, assim como de todos os temas que nos são indigestos,
durante os doze meses do ano. No entanto, dizer que eleger um mês para falar
sobre suicídio é inútil, é irresponsabilidade. Se você acredita mesmo nisso,
então, fale sobre suicídio, depressão, bullying, sexualidade, drogas,
violência, durante os doze meses do ano, mas fale. O que não podemos é não
falar. O que não podemos é enfiar a cabeça no buraco e fazer de conta que os
problemas não existem, porque o resto do corpo vai ficar exposto e frágil. Se é
para fazer como os avestruzes, que coloquemos o ouvido próximo à realidade para
que possamos identificar nossos verdadeiros inimigos e combate-los de frente.
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