Vivemos um tempo onde
com um toque na tela estamos cercados por muita gente e de ninguém ao mesmo
tempo. O dito popular “longe dos olhos, perto do coração”, nunca foi tão
verdadeiro. É bem menos trabalhoso amar à distância. De longe as palavras saem
mais fácil e também conseguimos projetar melhor a ideia que temos de outra
pessoa. Virtualmente, aos nossos olhos, o outro se torna muito mais parecido
com o que desejamos que ele seja, do que ele realmente é.
Mas, se é verdade
que de longe é mais fácil amar, ou admirar alguém, odiar também é. Não por
acaso vemos todos os dias pessoas destilando seus preconceitos e suas mágoas
nas redes sociais. É muito mais fácil odiar com distância suficiente para não
sofrer uma agressão física. É mais confortável dar opiniões com distanciamento
suficiente para não se responsabilizar pelas consequências das mesmas.
É fato que vivemos
tempos de virtualidades e que essa é a nova tendência mundial. Mas também é
fato que nos tornamos humanos na convivência com outros humanos. Aprendemos a
falar, ouvindo pessoas conversar. Quando crianças, aprendemos, na escuta do
diálogo, que há tempo para falar e tempo para calar, que existem diferentes
entonações para expressar, através da voz, diversos sentimentos.
É na convivência com outros humanos que percebemos
nossa singularidade e nos constituímos enquanto sujeitos. Foi no brincar que
aprendemos o movimento, que possibilitou outras aprendizagens. Foi na partilha dos
brinquedos e dos materiais escolares, que aprendemos a ser menos egoístas. É
nas rodas de conversa, com pretexto de tomar chimarrão ou cafezinho, que
resgatamos as memórias que nos lembram quem somos. Afinal, somos aquilo que
lembramos sobre quem somos.
Não somos robôs. Nossa memória não é um chip. Nosso
corpo não é um gabinete que protege uma Unidade Central de Processamento (CPU).
E nosso cérebro não é uma CPU, que armazena informações transcritas. Somos
organismos vivos, aprendemos pela experiência vivida e compartilhada e não por
transferência de dados.
Nós não nascemos humanos, nos tornamos humanos no
convívio cotidiano e real com outros humanos. Este aprendizado se dá por muitas
vias. Para aprender precisamos ver, sentir, tocar, cheirar, ouvir. Relações
virtuais são interessantes, mas não substituem um abraço e todos os sentidos
que ele estimula e faz transbordar em nós. Neste sentido, abraçar - demorada e
amorosamente - e acolher o abraço, são atos que nos tornam potencialmente
melhores.
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