Se é verdade que
gentileza gera gentileza, é bem verdade que violência gera violência. E a
emoção da raiva, do ódio, do medo, contagia muito mais rápido que a da bondade
e da gentileza. Se você pensa que não, procure analisar quão rápido se
disseminam nas redes sociais notícias bacanas, potentes, como uma experiência
pedagógica de sucesso numa escola pública, por exemplo. Quantas reações,
quantos comentários, quantos compartilhamentos? Vários!! Sim, vários. Mas muito
menos do que recebem as notícias fake
ou as medidas e colocações bárbaras (da barbárie como medida) produzidas
diariamente pelos doutores da lei e do caos e seus idólatras.
É muito fácil
deixar-se levar, deixar-se tomar por esses sentimentos primitivos, eles
mobilizam muita energia dentro da gente e partimos imediatamente para a ação –
reagimos através da palavra violenta, do soco na cara, do murro na mesa – e não
da reflexão, do diálogo. Até porque, quem dissemina mentira e ódio não quer
dialogar. E assim vamos, nos animalizando cada dia mais.
A tragédia
ocorrida esta semana numa Escola Pública na Região Metropolitana de São Paulo,
onde dois jovens invadiram a escola armados, deixando vários mortos e feridos, chocou
muitos brasileiros. Penso que deveria ter chocado a todos, mas não, chocou
apenas aos que ainda preservam algum senso de humanidade. Veja bem, logo em
seguida, vimos senador dizendo que se os professores estivessem armados a
tragédia teria sido menor. Houve também deputado dizendo que “armas não matam
ninguém, quem mata são pessoas”. Preciso concordar, é verdade. Tão verdade
quanto o fato de que, se aqueles meninos tivessem livros no lugar de armas, não
teriam matado ninguém.
O que choca ainda mais
é a tamanha irresponsabilidade frente à barbárie. O que entristece é que esse
ódio é alimentado todos os dias por quem deveria combatê-lo. Para onde querem
nos levar esses senhores da lei e do caos? Parece que violência nenhuma é
suficiente para desarmar seus ódios e preconceitos. Brincam com vidas humanas,
como se estivessem a jogar vídeo game.
Precisamos
incentivar e promover uma cultura de paz, ao mesmo tempo que nos mantemos
atentos e capazes de olhar para a cultura do ódio e da violência e buscar
compreender suas causas, tecer as críticas, promover incansavelmente o diálogo
a fim de que as pessoas tomem consciência de que a violência é produzida todos
os dias, por nós mesmos, que atacamos verbalmente nas redes sociais, que
perdemos a capacidade de dialogar, que buscamos impor nossas ideias sem
promover a discussão. Nós, que exaltamos
ou fazemos eco (ainda que às avessas) aos senhores da lei e da (des)ordem, que
enaltecem a cultura do ódio através de seus discursos violentos, que exaltam a
tortura e os torturadores, que plantam mentiras todos os dias e as repetem infinitas
vezes para que tornem-se verdade, que se vangloriam de suas poses de machos
alfa, que se orgulham de ensinar crianças a fazer arminha com as mãos e dizer
que tem que matar todo mundo que pense diferente de si. Não é possível se
aproximar de uma cultura de paz se ignorarmos a violência, se fizermos de conta
que ela não existe, se pactuarmos com ela. Não será enaltecendo os exemplos de
violência, ódio e discriminação de outro país que alcançaremos uma cultura de
paz em nosso país. As consequências serão as mesmas de lá, são tragédias
anunciadas. Não podemos lavar as mãos e fazer de conta que não temos nenhuma
responsabilidade sobre isso. Da urna às ações cotidianas, somos responsáveis.
Administrar um
país deveria exigir responsabilidade, ética e empatia. Mas não. Estão lá por
que vivermos numa democracia (ainda que torta), essa mesma que tentam colocar
abaixo, dizendo que tem mesmo é que matar, tem mesmo é que torturar, tem mesmo
é que reprimir, tem mesmo é que armar para deixar que se matem. É porque
vivemos numa democracia, e num país onde o ódio e o preconceito sempre
existiram – só estavam bem maquiados – é que estes senhores encontraram espaço
para transbordar não apenas sua infantilidade, mas seus preconceitos, sua falta
de empatia e senso crítico. Parafraseando
Lupicínio Rodrigues: Empatia foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora
e é por isso que eu gosto da memória onde sei que a utopia ainda mora.
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