quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

QUANDO UMA PALESTRA NASCE DE UMA METÁFORA (I)

Quando o município de Vera Cruz me convidou para fazer a abertura do ano letivo, com todos os professores da Rede Pública, eu fiquei muito feliz. Eu tenho um carinho todo especial pelo município e especialmente pelos professores de lá, que sempre tão bem me acolheram durante as pesquisas que desenvolvi em suas escolas. Já fiz palestras em Vera Cruz (e até já atuei como Fisioterapeuta naquele município. Meu primeiro campo de atuação na clínica fisioterapêutica foi em Vera Cruz), mas dessa vez eu tinha um desafio diferente, pois não havia um tema pré definido, eu tinha liberdade para decidir que rumo dar à minha fala. Que difícil foi essa tarefa!! Nesse momento tão frágil que passamos em nosso país, o que seria interessante para trabalhar com os professores?! Demorei muito tempo para decidir, mas pensei que educação não se faz sem seus profissionais e que esses profissionais dedicam-se, muitas vezes, mais horas de seu dia à sua atividade profissional (dentro e fora da escola) do que à sua casa e seus familiares. É frequente que esses profissionais esqueçam de si, de sua saúde, de seu corpo, esse corpo que permite que ele expresse quem é.
Meu ponto de partida foi o corpo do educador, assim nasceu a primeira ideia que deu origem à fala “O educador e sua casa ser”. Mas meu pensamento flui muito melhor quando tenho uma metáfora boa sobre a qual me debruçar. Pensei nesse corpo que carregamos todos os dias junto para tudo que fazemos. Esse corpo que nos dá alegria e também manifesta dores. Foi assim que surgiu a imagem do caracol e no Google encontrei a bela ilustração “O Homem Caramujo”, pintada por Eduardo Barroso. Entre os devaneios necessários, lembrei do livro Cara Caracol, de autoria da minha amiga muito querida Helô Bacichette. Foi assim que reli o livro e encontrei a metáfora perfeita para o que eu queria. Cara Caracol é um personagem cheio de poesia e que, com certeza, encanta as crianças a se encaracolar muitas vezes. Mas Cara Caracol tem uma profundidade impar para o adulto atento, o adulto que ousa, assim como Cara Caracol, olhar para além de onde o olho alcança.  Foi um prazer conduzir a minha fala através de várias narrativas, contos de Eduardo Galeano, de Clarissa Pinkola Estés, Sean Taylor e a poesia da minha amiga  Helô.
Quando terminei minha fala, confesso que fiquei apreensiva. Será que havia sido suficientemente interessante para os professores? Será que teria sido útil para eles? Percebi que estava buscando um sentido utilitário na minha fala e isso estava me incomodando. Foi quando lembrei do Rubem Alves e das suas caixas, a de ferramentas e a de brinquedos. Para Rubem Alves "a vida não se justifica pela utilidade. Ela se justifica pelo prazer e pela alegria - moradores da ordem da fruição". Eu optei em buscar os "instrumentos" para a minha fala na minha Caixa de Brinquedos. Foi uma escolha, mas se nós, trabalhadores da educação, não formos capazes de nos emocionar, de perceber, de ser, o que seremos nós?!
 
Felicidade é algo que faz
a gente crescer de dentro pra fora,
que permite fazer pulsar a humanidade em nós.
Felicidade rima e combina com amizade,
como a nossa, Helô!!

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